Seu Lobo

Seu Lobo
Ele tá vindoooo! Uhauuuu!

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Comprando um carro ou uma ata, tem sempre alguém pra nos passar a pata.


Em São Paulo, de férias com a esposa, visitando genro e filha, resolvemos presentear o casal pelos 5 anos de casados completados ontem, 12/01/2012. Um presente significativo: trocar o carro deles, um popular 1.0, por outro com ar condicionado. Afinal, é item necessário, principalmente pela segurança de poder trafegar com os vidros fechados.  Depois de  avaliar diversas opções decidimo-nos por um Ford Fiesta, pois estava em promoção com dois outros itens de segurança raros em carros populares: freios ABS e air-bags.  “É pronta entrega”, respondeu o vendedor quando perguntamos. Foi feita a avaliação do usado e a negociação, etc. Assinamos os papéis, fui ao banco e paguei a diferença à vista. Tudo pronto. E então, a surpresa: “O carro não está em São Paulo e sim no nosso depósito, em Caçapava e só será entregue em cinco dias”. Fiquei fulo da vida, aborrecido e muito irritado. Por que o brasileiro é assim, sempre desonesto? O cara tinha levado a gente pra ver o carro no pátio. Tinha dito “esse é o carro”. E agora vinha com essa, de que “esse é o carro” queria dizer apenas que “esse é o tipo de carro”! Pode? A ainda insistiu em dizer que havia informado que a pronta entrega padrão da loja é de 5 dias úteis. No fim eu é que seria o culpado, por não ouvir direito!  Veio o gerente. Escutou a história e disse “A gente treina esse povo mas eles, na ânsia de vender, cometem esses erros. O senhor nos perdoe”. O resultado é que o jeitinho e a malandragem sempre aparecem para transformar um momento de alegria em aborrecimento.  “Vamos fazer um exercício mental e esquecer esse pequeno aborrecimento” – falei pra minha turma. De noite fomos jantar juntos.

Hoje fui ao Mercado Municipal.  Andando daqui pra ali entre os boxes do famoso mercado, com frutas e iguarias exóticas de todas as partes do Brasil e do mundo, com aquela riqueza de odores, cheiros e cores que enchem nossos sentidos. Num dos boxes, perguntei: “Qual o preço da ata[1]?”  “R$ 20,00 o quilo. Quer experimentar?”  “Não, não, obrigado”. “Tome, experimente, por favor”, e foi logo cortando uma delas e me dando a metade num guardanapo. Meio sem jeito, aceitei. Enquanto degustava olhei para a cesta de  athemoya, uma fruta exótica da Amazônia. O cara, mais que rápido, pegou uma e já veio com outro naco pra mim. Rejeitei. Mas ele, insistente, me fez pegar uma lasquinha. Ainda no meio, vem ele com uma pitaya, vermelha, suculenta! Essa rejeitei mesmo, com toda força das palavras e gestos, já que havia acabado de almoçar. Agradeci e, quando ia saindo, adivinha o que aconteceu? O sujeito começou a me insultar, dizendo que eu dissera que iria comprar a ata e por isso ele partiu uma pra eu provar. “O senhor quer comer de graça? Tá escrito besta aqui na minha testa?”  Gente, eu fiquei branco, depois vermelho, sem fala! Mas minha paralisia durou só uma fração de segundo. Gritei mais alto que ele: “Não tá escrito besta, mas deveria estar escrito CRETINO”.  Eu gritei com força e num tom intimidativo.  “Eu não pedi nada, o senhor foi quem insistiu pra eu provar. E, quer saber, agora é que eu não compro mais nesse box, nem hoje nem nunca mais. O senhor deve ser daqueles que sentam no sofá de noite, assistem ao jornal na TV e ficam indignados com as falcatruas dos políticos. Mas o senhor é igualzinho a eles.”  Falei tudo assim, de supetão, naquelas lacunas mágicas de silêncio que às vezes ocorrem. O cara ficou tão sem graça, afastou-se para o fundo do box sem dizer mais nada. Os companheiros vendedores de outros boxes olhavam com rosto surpreso, como se não acreditassem no que viam. 

Saí apressado e fui embora, aborrecido até a alma. Me pergunto sempre, por que, meu-deus-do-céu, o brasileiro é assim?  Seja na maior concessionária Ford de São Paulo, a CAOA, seja num box de mercado, na compra de um carro ou de uma ata, sempre a malandragem, o jeitinho, a tentativa de ludibriar!  A impressão que dá é que tá tudo perdido. De cima a baixo, de fio a pavio, do pedreiro ao magistrado, tá tudo podre!

Sei que não é bem assim, mas, tem hora que dá um desespero. Parece que não se pode mais confiar em ninguém.  Sinceramente, do jeito que as coisa vão, fico pensando quanto tempo vai demorar para que nos tornemos um país sério.


[1] Ata, fruta do conde ou pinha.