Menino de 10 anos, de família tranquila, de pais evangélicos, querido por todos, bons relacionamentos no lar e na vizinhança. Na escola boas notas, amizades, elogios. Na igreja toca bateria no grupo de louvor. Vive bem, sem conflitos com o único irmão, mais velho, de 14 anos. Família sem grandes posses, mas financeiramente equilibrada. Um belo dia anuncia que irá matar a professora. Os poucos colegas de classe que ouvem essa história acham-na tão absurda que nem consideram a hipótese de leva-la a sério. No dia seguinte, pega o revólver do pai, policial, que sabia estar escondido em certo lugar. Põe na mochila. O pai leva os irmãos à escola, à pé, pela mão, como todo dia, pois moravam a um quarteirão do colégio. Um dia como outro qualquer. Não foi.
Ao chegar em casa para pegar o revólver para o trabalho o pai não o encontra. Desesperado liga para a esposa. Ela diz que não tem ideia do que ocorreu. Mais desesperado ainda o pai corre à escola e manda chamar os filhos. Eles descem e dizem que não pegaram a arma. “Como eles não costumavam mentir e falaram com tanta segurança, acreditei piamente” disse depois à polícia. O pai volta pra casa e continua a procurar a arma. Fica imaginando que talvez algum estranho a tenha pego. Não, nada havia que indicasse essa hipótese. Onde estaria essa arma? O pai estava convencido que não estava com os meninos. Estava.
A notícia correu pela rua a partir da porta principal da escola como um rastilho de sombra lúgubre, um rastro do pó escuro de morte. Percorre as ruas em todas as direções. Bate na porta do pai que, ao telefone, ligava para os companheiros de farda tentando uma explicação e buscando ajuda acerca do sumiço da arma. Não precisava mais. A resposta veio de chofre: seu filho mais novo acabara de atirar contra a professora e depois contra a própria cabeça. Acabou.
Essa nem Freud explica! Os psicólogos e outros profissionais das humanidades estão perplexos. Nós todos, mais ainda que eles. Pode ser que, mais tarde, depois de muita investigação e análise de novos dados e fatos, cheguem a alguma mínima explicação. Talvez. Somos pessoas de senso. As coisas têm que fazer sentido para nós, ainda que menos do que precisamos. Nós precisamos de sentido nas coisas, sentido da vida.
Para nós fica a inquietação, a certeza que, afinal, não chegamos a conhecer nem a nós mesmos, nem a humanidade que nos cerca. “Há mais mistérios entre o céu e a terra do que supõe a nossa vã filosofia” escreveu com costumeira lucidez o grande Sheakpeare na sua notável obra Hamlet. Sim, muitos mistérios, muito mais do que podemos supor, não apenas na vã filosofia mas em tudo o que concerne à nossa vã condição humana.
Segue a vida. Enquanto seu lobo não vem. Que esse acontecimento ao menos sirva para nos deixar mais humildes, conscientes de nossas próprias limitações. E que cada pessoa encontre o sentido da existência, da espécie e da sua própria, pois que dentro de cada um clama uma ânsia de infinitude que nunca pode calar.
É, sao tempos sombrios esses em que nos tocou viver. A propósito veja coluna da Lya Luft na Veja dessa semana:"Em quem confiar".
ResponderExcluirO texto de Lya Luft que você recomenda vai direto ao ponto e suspira por uma esperança. Quem quiser ver, está aqui: http://avaranda.blogspot.com/2011/10/lya-luft-em-quem-confiar.html
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