Seu Lobo

Seu Lobo
Ele tá vindoooo! Uhauuuu!

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Minha Mensagem de Natal (2011). Ainda é Natal

Posto aqui meu e-mail de natal encaminhado aos amigos, colegas, familiares e contatos:

Renovo a mensagem permanente do Natal, o mistério indecifrável pela razão e pela ciência, só comunicado ao homem espiritualmente: Deus se fez carne e habitou entre nós.

Aos que recebem pela fé essa convicção em seu espírito, maravilha. Se você comemora o natal apenas culturalmente, tudo bem. Mas o melhor é sentir no peito essa comunicação misteriosa e maravilhosa, que nos enche de esperança de que todas as coisas um dia serão renovadas e haverá um mundo novo, de verdadeira harmonia, paz e, principalmente, de Justiça, sob o governo do Criador.

Abraços a todos,


Faustino


Pict1024.jpg
Este não é um cartão de natal comum.
Foi feito com pincel à boca
por uma pessoa com restrições físicas (tetraplégica).
Por isso seu valor supera a simples imagem
e nos estimula à superação.
Nos fala do potencial que Deus destinou a cada um de nós,
que, mesmo diante de tragédias, se manifesta.

Conheça o trabalho dessas pessoas e suas mensagens de superação
visitando o site da Associação dos Pintores com a Boca e os Pés - APBP >  http://www.apbp.com.br/

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Inacreditável 2 - Senador Edinho recusa-se a pagar médicos

Realmente o ser humano é imponderável, nunca para de nos surpreender. Um passarinho me contou semana passada que o Senador Edinho Lobão (PMDB-MA) recusa-se a pagar os serviços de alguns dos médicos que participaram do atendimento emergencial e cuidaram dele logo após o acidente automobilístico que por pouco não lhe vitimou, ocorrido na região metropolitana de São Luís, no dia 12 de maio de 2011 (o carro do Senador bateu de frente com uma caminhonete quando ele voltava de inspecionar serviços em seu helicóptero). Uma fatura irrisória diante da fortuna do homem que enriqueceu com uma panificadora em Carajás (trocando pão por pepitas de ouro). Argumentou que não autorizou os procedimentos.  Já se vão 7 meses e o Senador simplesmente diz que não vai pagar e pronto.

Divulgou-se na imprensa que, após o acidente, o Senador permaneceu em estado grave num dos melhores hospitais da capital, sob intensos cuidados. No dia seguinte veio um avião de Brasília, mandado pelo Senado, para leva-lo a São Paulo, com todos os apetrechos de socorro médico. Mas seu estado era tão delicado que não pôde ser transportado. O avião retornou e, dias depois, veio outro para levá-lo.

Como tratava-se de uma informação de um único passarinho, não dei o crédito devido na hora. Ouvi, exclamei, mas fiquei com a pulga atrás da orelha – sempre pode ser contrainformação com motivação política, não é?  Ocorre que, logo depois, tive um encontro ocasional com outro passarinho, mas esse com ninho em casa de médico, que, não só confirmou como acrescentou que quando o Senador Lobão (o pai) soube do caso, teria ficado perplexo e teria se disposto a pagar.  Pediram dos médicos mais uma vez os relatórios das intervenções. Mas até agora, nada.

Quem ouviu deve lembrar-se do Senador Edinho Lobão em entrevista dizer que saía daquele acidente como um novo homem, com muito mais percepção do valor da vida e maior consciência de sua missão!  Algum inocente pode ter alimentado esperanças. Está desculpado. Sempre tendemos a acreditar que a experiência de ver a morte de frente impacta a vida. Pois é, se o novo homem é assim, imagina o velho! Do valor da vida, eu não sei, mas do dinheiro, esse, ao que parece, para o Senador, não mudou nada.  

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Palmada, salutar instrumento de regulação do clima familiar.



A propósito da Lei da Palmada Zero, mais uma lei-zero num país com sistema judiciário falido e instituições públicas desacreditadas, lembrei de um episódio que vivenciei anos atrás.  Conto.

No final de 2006 passei um mês hospedado na casa de um parceiro comercial, numa capital nordestina, participando de um treinamento. Convivi com a família (pai, mãe e três filhos) aqueles 30 dias e vi uma criança de 5 anos infernizar a vida de todos com suas birras. Era irritante. A mãe, católica fervorosa, diretora de uma ONG de adoção, era adepta da exclusividade da conversa como instrumento de educação. A cada crise de birra da menina a mãe punha-se em ação: conversava, conversava, explicava, explicava, botava de castigo, sentadinha numa cadeira por 5 minutos. Não se passavam 2 minutos, a criança, irrequieta, suplicava para sair do castigo. “Só se você pedir desculpas para a mamãe e prometer que não vai fazer mais isso”, respondia a mãe. A criança, imediatamente, com aquela vozinha de cortar o coração, respondia: “Disculpa, mamã... eu num faço mais”.  Pronto, fim do castigo. Mas aí, não demorava nem 5 minutos, a criança voltava a fazer a mesma coisa: teimosia e birra, implicância com os irmãos. Na hora do almoço, era um deus-nos-acuda. Uma hora derrubava os pratos da mesa, outra, virava a panela de feijão, ou tirava o pedaço de carne do prato do irmão, ou derrubava a jarra de suco. Exigia o lugar onde sentar, batia na mesa, gritava com os pais e os irmãos, esperneava, e por aí vai. Vocês sabem, com certeza já viram ou vivenciaram essas birras, aquela hora em que a criança pede pra apanhar, não sabem? (Ai, os sicólogos[1] e pedagogos de carteirinha vão tirar meu couro, vão sim! Vão me prender por tutela antecipada!  Calma, senhores, eu não tenho mais filhos pequenos!). Voltemos. A mãe, a essas alturas, diante de todo aquele desmantelo, estava já no limite. Já tinha falado todo aquele blá-blá-blá, gastado em vão sua verborreia. A menina, nem aí pra ela. Parece que não ouvia: entrava por um ouvido, saía pelo outro. Vocês sabem como é. A criança então corria da mãe para o pai (como elas sabem fazer esse jogo! Quem as ensinou?). A mãe, de longe, só olhava. O coitado do pai já sabia: tinha que dar apoio à mãe. Ele até que tentava: conversava, conversava, explicava, explicava, botava de castigo de novo. O processo se repetia “n” vezes ao logo do dia, todos os dias. Era um estresse quase insuportável. De vez em quando a criança se cansava e se aquietava. Mas, meia horinha depois, tudo de novo. E, assim, o dia inteiro. Uma sucessão de birra + sicologia burra + cadeirinha de castigo sem fim.

Certa noite, todos dormindo, estava eu no andar de baixo, sozinho, lendo. Vi o meu amigo descer as escadas. Sentou-se e perguntou: “Noto que você está incomodado com as birras da minha filha. O que você acha que podemos fazer?”. Levantei o rosto, olhei firme para ele, senti seu drama. “Aquilo ali é uma Bíblia, não é?”. “Sim”,  disse ele. “É da minha esposa”. “É uma bíblia católica, certo?” (sendo eu evangélico, esse era um ponto importante).  “Sim”.  “Então, pegue-a e abra em Provérbios 22:15”. Ele abriu e leu: “A estultícia está ligada ao coração da criança, mas a vara da correção a afugentará dela”. “Amanhã, experimente umas palmadas e veja como ela reage” – disse a ele.  “Não tenho coragem. Minha mulher me mataria”, respondeu.  Eu expliquei que, na minha modesta opinião, o sábio Salomão escrevera esse e outros versículos nessa linha porque conhecia o coração humano. Um conhecimento milenar. Ele sabia o quanto uma criança pequena pode ser capaz de manipular seus pais, coloca-los um contra o outro e disputar poder com eles. Uma criança não tem as qualificadoras mentais apropriadas ao debate, à discussão. Não tem as categorias cognitivas para entender explicações. Para elas, tem que ser sim, sim, não, não. Tem que obedecer e pronto. O argumento básico é “Por que mamãe não quer”. Mais tarde as explicações corretas virão naturalmente. Foi assim há milhares de anos. Ninguém morreu por causa de uma palmada, um beliscão, um puxão de orelhas. Não é queimar, quebrar o braço, vergastar, queimar com ferro, jogar água quente, humilhar, baixar a lenha... nada disso. Isso aí é crime e o ECA, como está, já tem providências.  Mas, quem foi pai de um birrento sabe muito bem que tem hora que a única linguagem que funciona é a da palmada, a da dor.

No dia seguinte meu amigo estava só. A esposa havia saído. A menininha começou sua rotina infernizadora. Lá vai ele, conversar. Conversa, conversa, conversa, explica, explica, explica...  eu só olhando, de esguelha. Bota ela de castigo por 5 minutos. Nem 1 minuto se passa e... tudo de novo.  De repente, plac, plac, plac!  Três palmadas boas no bumbum!  A menina ficou estupefata! Não chorou. Não fez nada. Apenas ficou olhando para ele, sem reação. “Papai falou, você não quis ouvir, não é? Agora vamos ver se você entende.”, disse ele. Foi uma manhã feliz, depois de dias!  Quietinha, num canto, a criança, dez minutinhos depois, estava brincando com suas bonecas, na maior alegria. Mas quando a mãe chegou, kabruummmm!  Ela correu, chorando e... “Mãe, papai me bateu, buáaaa, buáaaa, buáaaaa...” e foi aquele chororô.   “Pai, você bateu nela? Você teve coragem? Não acredito!”. Pronto! O tempo fechou. Pais em conflito. E eu me sentido um estorvo.

Hoje meu amigo mora fora do Brasil com sua família. Outro dia vi pela webcam sua filha, hoje uma jovem adolescente, muito bonita. Não sei como ela está, não perguntei. Pareceu ser uma boa menina, obediente. Mas, pergunto, teria que ser daquele jeito?  Umas boas palmadas teriam tornado a vida dessa família menos estressante e harmonizado a relação familiar com os irmãos. E não traria nenhuma consequência à vida adulta, como quase todos nós, filhos de uma geração que castigava, pode provar.  Sou capaz de afirmar que não existe hoje um adulto que tenha sido disciplinado por seus pais, da maneira correta, que reclame ou tenha traumas. Não falo dos que foram espancados com cordas, fios, cinturões, pedaços de pau, queimados com água quente, com pontas de cigarros, machucados com alicates, furados com agulhas, etc.

Minha tese final é esta: bata na criança e converse com o adolescente. Quem tenta conversar com a criança vai acabar tentando inocuamente bater no adolescente. A conversa com a criança é importante e necessária, sempre no nível que ela pode entender. Acima desse nível o argumento é “por que papai ou mamãe não quer” e pronto. E se chegar o ponto – e quase sempre chega, na maioria dos casos – uma palmada, um puxão de orelhas, um cocorote não fará mal a ninguém. Há filhos de boa índole que nunca precisaram de palmada. Que maravilha! Mas há aqueles, que o sábio Salomão chama de insensatos, estultos, que serão facilmente postos nos trilhos com umas boas palmadas em acréscimo às explicações e conversas.

Alguns conselhos do sábio Salomão, retirados do livro de Provérbios, da Bíblia cristã, para encerrar:

13.24   O que retém a vara aborrece a seu filho, mas o que o ama, cedo, o disciplina.
17.21   O filho estulto é tristeza para o pai, e o pai do insensato não se alegra.
17.25   O filho insensato é tristeza para o pai e amargura para quem o deu à luz.
19.13   O filho insensato é a desgraça do pai...
19.18   Castiga a teu filho, enquanto há esperança, mas não te excedas a ponto de matá-lo.
29.17   Corrige o teu filho, e te dará descanso, dará delícias à tua alma.


 [1] Brincadeirinha velha essa minha de bulir com os Psicólogos, retirando o “P”. É que eu li um tempo atrás, não sei mais onde, que as consoantes mudas passaram a ser de pronúncia opcional – ops, ocional. Assim, não me chamem de inorante por usar essa oção. 

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Palmada Zero – o país dos extremos.


Não houve debate. A discussão deu-se lá em cima. Uma imposição legislativa. Democracia dos iluminados. Desde que o presidente Lula mandou ao Congresso  o PL 7.672/2010 para alterar o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) com o objetivo de, sic, “estabelecer o direito da criança e do adolescente de serem educados e cuidados sem o uso de castigos corporais ou de tratamento cruel ou degradante”, os especialistas travaram uma batalha fácil. A mídia fez seu papel. O rolo compressor do “politicamente correto” trabalhou pouco: ninguém apareceu para ser triturado. Afinal, quem vai ser favorável à “violência” contra uma criança ou ao “tratamento cruel e degradante”?

Aqui é assim: 8 ou 80. No caso do álcool, adotamos um limite mais rígido do que na Europa e EUA, mas não fomos capazes de fiscalizar ou punir. A lei “quase”  seca não pegou. Então, agora vamos para a lei realmente seca, lei do Álcool Zero. Mas, de que adianta se temos um sistema jurídico falido?

No caso da violência domiciliar, já temos – dizem os especialistas – a lei mais avançada do mundo, o ECA. Mas, é pouco, pois não a cumprimos. Então, já que não fazemos o 8, vamos ao 80: para coibir os pais violentos (a minoria), vamos impor a restrição total à maioria: tolerância zero. Uma palmada, um cascudo, um cocorote, um puxão de orelhas, um simples beliscão. Nada, nada. Os iluminados, psicólogos, psicanalistas, educadores acadêmicos, muitos deles que nunca lidaram com uma criança teimosa e birrenta, diante da qual todas as teorias dos livros simplesmente desmoronam, estão radiantes, certamente sentindo-se a bala que matou Napoleão, por libertar as milhares de crianças brasileiras da ameaça de seus...  pais!  

Pois bem, se já somos incapazes de cumprir o ECA como está, seremos de cumpri-lo com essa adição? Está claro que essa será mais uma lei feita para não pegar. Uma lei feita em total desprezo ao que, suponho, pensa a maioria do povo brasileiro. Suponho, pois nenhuma pesquisa foi feita que seja do meu conhecimento. Vi o resultado de uma enquete pela internet, que não tem valor científico, mas dava conta de que 85% dos que responderam eram contra. Mas, pensando bem, perguntar pra quem? Será que o povo, esse povinho sem instrução, enraizado na cultura da violência, tem condições de contribuir para um debate “desse nível”?  Claro que não, dirão os especialistas iluminados.

O caminho mais fácil, proibir a disciplina física, é a saída para um estado incapaz de coibir o espancamento de crianças por parte de pais violentos. No que vai dar? Vamos pagar pra ver. Outro dia vi na TV uma matéria sobre um caso nos Estados Unidos: um pai condenado a não lembro quantos anos de prisão por bater em seu filho adolescente. O filho, de 12 anos, chorando no tribunal, clamando em favor do pai, dizendo ter merecido o castigo; os guardas tendo trabalho para desgrudá-los, pai e filho aos prantos, na hora da prisão. 

Levanto minha mão e digo: discordo de todos esses especialistas. Prefiro ficar com o sábio Salomão. Pronto, pode passar o rolo compressor sobre mim. Falei e falo: tá errado proibir os pais de dar palmadas nos filhos.

A corrupção na Magistratura brasileira: a culpa é da Constituição.

Com mais uma, dentre muitas decisões polêmicas, causadoras de indignação, o STF está outra vez em evidência, como "nunca antes, na história desse país". Pense bem, há uns dez, quinze anos atrás, o que você ouvia falar sobre STF na grande mídia?

A decisão da vez é a que paralisa o CNJ. O Ministro Marco Aurélio de Mello decidiu ontem (19/12/2011) antecipar a tutela do direito de as raposas guardarem as uvas. O CNJ não pode mais, de acordo com a liminar deferida pelo Ministro, iniciar investigação nova contra qualquer magistrado. As investigações já iniciadas devem ser imediatamente paralisadas.  É o fim do CNJ.

O CNJ foi criado por causa do evidente processo de marginalização da magistratura brasileira.  Cada vez mais juízes e desembargadores passaram a ocupar o noticiário criminal com casos revoltante de vendas de sentenças, tráfico de influências, engavetamento de processos, nepotismo direto ou cruzado, enriquecimento ilícito com diárias fraudulentas e verbas administrativas imorais, e, até, formação de quadrilhas para fraudar licitações e superfaturamento de obras públicas. Coisas contra as quais os magistrados deveriam julgar com isenção para o cidadão comum. Eles, que deveriam ser cidadãos acima de qualquer suspeita, tornaram-se símbolos de suspeição, lançando sobre sua própria classe, incluindo aqueles seus colegas íntegros, o manto da desconfiança.

O que me chama a atenção na liminar do Ministro é que ele apela para a Constituição. Ao que parece o problema da marginalização da magistratura decorre da nossa Carta Magna, dos princípios que a sustentam: autonomia dos poderes e o primado da lei. Ou seja, mesmo quando esses princípios estão sendo usados como instrumentos de crimes, eles devem ser respeitados. Escrevo esse texto imediatamente depois de ver a notícia na TV. Não tive tempo nem cuidado para analisar melhor, e também, não sou jurista e sim engenheiro; nesse momento reajo indignado como um cidadão comum.  Não tenho, pois, o saber jurídico para contestar o Ministro. Sei, porém, que ele tem sido contestado especificamente neste tema por muitos de seus pares e pela OAB. Vi também na TV que o tema já esteve mais de uma dezena de vezes no Plenário do STF sem solução. Portanto, argumentos para contestar o Ministro por quem está à sua altura, há.

Ao que parece, os crimes da magistratura estão sendo praticados sob os auspícios da nossa Constituição, conforme se entende do despacho do Ministro.  Então trata-se de um defeito made in Brasil.  O chip da justiça brasileira já vem com defeito de fábrica.

Se o CNJ não pode iniciar investigação porque teria que esperar os ritos das corregedorias, voltamos à estaca zero. A ineficiência das corregedorias é uma doença antiga, crônica e endêmica da magistratura brasileira. É pública, notória, está evidenciada à exaustão, nos processos, nos milhares de casos julgados e não julgados, nas estatísticas, estudos e levantamentos:  a conivência da confraria de colegas.  Como julgar os crime do meu colega de churrasco quando ele sabe também dos meus? A impunidade dos juízes criminosos chegou a tal ponto que o CNJ foi criado para investigar o que nunca fora investigado de verdade, para acabar com os engavetamentos, com as prescrições e punir os magistrados. Só que o CNJ expôs ao público, “como nunca antes na história desse país”, a ferida aberta, a lepra, a chaga moral da magistratura brasileira. O que estava soterrado sob pilhas de páginas saltou das prateleiras empoeiradas. Gravações de voz e vídeos envolvendo magistrados vieram à lume. Foi um deus-nos-acuda! Pânico na “categoria”.  A Associação dos Magistrados do Brasil – AMB saiu de seu limbo e apareceu para protestar. Levantou alto sua bandeira em prol dos magistrados limpos. Sim, eles existem, e muitos – a maioria – eles juram. Apelou ao Supremo: “Parem o CNJ se não ele vai acabar com a magistratura brasileira!”. Então, qual foi a solução do Ministro? Parar o CNJ!

Já há alguns dias atrás o próprio presidente do CNJ, Ministro César Peluso, tentara desqualificar publicamente a corregedora do CNJ, Ministra Eliana Calmon, por ela ter afirmado que há criminosos togados infiltrados na magistratura. Como se fosse isso um segredo. Como se todo mundo não soubesse. Como se fosse um crime falar uma coisa dessas.  Não funcionou: a Ministra não se deixou intimidar, muito pelo contrário, reafirmou sua fala e não pediu desculpas a ninguém. Escrevi à ministra em apoio, lembrando-lhe a passagem dos Evangelhos, onde Jesus contou a parábola do juiz iníquo. Peluso deveria, então, interpelar também a Jesus (mas não agora, no Natal, por favor, Ministro!).

Juízes são gente, são pessoas. Apenas são mais qualificados tecnicamente – muito qualificados, por sinal. Dominam as artes do direito. São, por isso mesmo, capazes de muito bem manusear os instrumentos dessas artes. São regiamente pagos (supõe-se) para fazê-lo apenas em prol da justiça. Mas, como ensina a Bíblia, são ainda homens e mulheres à mercê da queda, da natureza pecaminosa, sujeitos às tentações da ganância, da cobiça, do dinheiro e de todo o poder que ele representa.  Só por isso já se justifica estarem sob controle, prestar contas, serem fiscalizados. Não por corregedorias corporativas, viciadas, inúteis. Mas, como no estado laico essa argumentação é inócua, vamos aos princípios moralizadores da própria ordem jurídica, ao direito natural, data vênia, na linguagem dos eminentes, aquele direito que deve saltar do coração para a lei positiva. A independência do magistrado não é para cometer crimes. Se há defeito de fábrica em nosso ordenamento jurídico que impede o CNJ de iniciar processos contra os magistrados então que se corrijam esses defeitos. Caso contrário, vamos continuar indo rápido ao caos judiciário, à degeneração da sociedade de direito, uma vez que os criminosos já perderam o medo dos processos e sabem que podem contar com advogados e juízes corruptos aos montes para fugir indefinidamente das punições. Seria o fim do estado de direito. A punição só para os fracos e pobres constitui em si mesma uma injustiça. Será que isso já não está acontecendo em larga escala no Brasil?  Até quando?


sábado, 5 de novembro de 2011

Inacreditável Brasil FC


Gente, vou abrir uma série de pequenos textos, tomando de carona o mote do Globo Esporte, naquele quadro “Inacreditável Futebol Clube”, onde eles comentam os lances mais insólitos (isso mesmo, hehe...) dos campos de futebol. 

Vou comentar coisas da vida social e política brasileira que eu leio na mídia que são tão inacreditáveis quanto os mais inacreditáveis dos inacreditáveis gols perdidos. Só que o campo é outro, o da ética, e a bola é a do caráter.

Comecemos pela Câmara dos Deputados. Que lugar poderia ser melhor para essa estreia? (Pior é que tem, e muitos! Lugar para o inusitado no Brasil não falta!). Vamos nos contentar com a Câmara.

Não é que um deputado – só poderia estar dé-PUTADO mesmo o cara – teve a coragem para criar um projeto de Lei para – pasmem, PASMEM! – anistiar os deputados cassados pelo caso do Mensalão?  Acredite, o nome da fera é Ernandes Amorim, do PTB de Rondônia.  É muita cara-de-pau! O sujeito quer apenas anistiar José Dirceu (PT-SP), Roberto Jefferson (PTB-RJ) e Pedro Corrêa (PP-SP). Só isso! E pra beber, um vinhozinho português, quem sabe!
Segundo o Estadão (Jornal O Estado de São Paulo) o texto desse PL corre em conjunto com outro projeto sobre o tema, de Neilton Mulim (PP-RJ), mas que, bem ao contrário, defende a proibição da anistia a agentes públicos.

O pior é que, de uma maneira misteriosa, esse projeto foi PAUTADO para a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça da Câmara) por nada mais nada menos de quem? Quem? Dou um docinho quebra-queixo, daqueles que se vendem no nordeste em tabuleiros na feira!  João Paulo Cunha! Ele mesmo, o que é réu no Mensalão, cuja mulher foi flagrada no caixa do Banco Rural para receber R$ 50 mil do esquema do Mensalão para “pagar a conta da  TV a cabo”. O mesmo que foi reeleito pelos paulistanos, uma injustiça a Tiririca. O mesmo que foi escolhido pelos seus companheiros –  “mais de 300 picaretas” (lembra?) – para ser simplesmente o presidente da CCJ, a comissão mais importante da casa. O mesmo que, de uma maneira cínica, nega o Mensalão até hoje – como minha mãe costumava dizer: “É a faca entrando e ele negando!”:   “Não houve mensalão. Essa é uma injustiça. Falar que houve mensalão é uma injustiça com o PT e com as pessoas envolvidas” – disse em entrevista no programa “É Notícia”, de Kennedy Alencar (http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/tag/joao-paulo-cunha/).

Pego com a mão na massa –  o PL cara-de-pau pautado na CCJ –  João Paulo Cunha pulou de cá, saltou de lá, deu um monte de desculpas esfarrapadas, mostrou-se “surpreso”, disse que não sabia, que deve ter sido um engano. “Nem sei por que isso foi para a pauta. Alguém deve ter pedido para colocar o outro projeto, do Mulim, e esse veio junto”.

Quer saber: pra mim foi tudo orquestrado. Pega um de-putado-zinho obscuro, dá o serviço sujo pra ele fazer e bota na pauta pra ver o que acontece. Se der certo, maravilha! Se não, sai com essa de “surpresa”, como se fosse fácil pautar um PL na CCJ.

É o Inacreditável Brasil FC. A bola murcha do caráter no campo da ética não entra na trave da moral.


sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Tente Explicar II



Pai advogado abusa da filha por mais de oito anos.  Mãe acoberta.
  
Por que, meu-deus-do-céu?! O que se passa na cabeça de um homem aculturado, numa sociedade de informação, com curso superior em Direito, advogado atuante, assessor jurídico de entidades sindicais, militante de direitos humanos ao sentir atração sexual pela própria filha?!  O que é que um homem com esse perfil social pensa ao ter coragem de tocar as intimidades dessa filha, gostar disso, usar de sua autoridade de pai para iludir a coitada com palavras e argumentações esdrúxulas, para passar das carícias ao abuso maior de estuprar, violentar, vilipendiar a inocência e a confiança dessa criança, tripudiar de sua dignidade, agredir seu foro íntimo, detonar sua autoestima, espezinhar seu valor próprio. Pior, continuar nessa linha de ação por 8 anos! Como pode ver sua filha já adolescente, na fase de arrumar-se, mostrar-se ao mundo como uma flor, descobrir o amor, amar e ser amada, e ainda assim continuar com o abuso? Qual tipo de argumentação esse homem desenvolveu para si mesmo, para sustentar-se como gente e tomar por base para sua militância social pelo bem comum? Que respostas foi capaz de dar à menina-moça agora capaz de compreender os papéis sociais, descobrir-se como mulher, lidar com sua sexualidade e já consciente da monstruosidade de que era vítima constante? 

Nem precisamos referir aqui a repetição da monstruosidade com uma prima da sua filha, e mesmo com o seu filho menor. Só aumenta a nossa perplexidade.

E ainda, que mãe é essa? Todos sabemos do poder do amor de uma mãe, da capacidade de privar-se por seus filhos, de protege-los sob situações extremas. O que essa mãe considerou ao optar por ignorar o abuso e proteger o marido agressor? Segurança econômica? Amor ao marido? Estabilidade do casamento? O que essa mãe conversava com sua filha criança? O que dizia à sua filha adolescente? Como funcionava sua cabeça ao saber exatamente o que estava acontecendo?

Adevogados! Adevogados, com “d-e” mesmo. Os desse tipo são cínicos criativos. A tese da “defesa” do pai agressor, trazida à lume por seu “adevogado”, é a de que trata-se de uma artimanha da filha para extorquir dinheiro do pai. Rapaz, das duas uma: ou essa menina é uma monstra (de inventar tal loucura para incriminar pai e mãe por causa de dinheiro) ou esses “adevogados” – pai inclusive – extrapolaram todos os limites do absurdo! É o que parece, pois a hipótese que levantaram é inacreditável!  Se, por mais absurdo que seja, for confirmada, pelo menos haveria uma lógica por trás: dinheiro. Tal coisa ainda seria menos indigna. O ser humano sempre cometeu absurdos por essa causa.

Não, não é crível. Espero que não se confirme. Quem ouviu o depoimento da jovem só pode entender que essa tese vem para aviltar ainda mais o que restou de sua dignidade. E se o pai, depois de tudo, ainda tem a coragem de levantar um argumento desses, então está apenas comprovando sua cretinice incurável. É mesmo um monstro.

Que se apure. Não será difícil. A verdade aparecerá completa.  Mas nada, nada que possa ser feito ou dito será capaz de explicar tamanha barbaridade num mundo tido como civilizado. O ser humano é mesmo um desconhecido.  A doutrina cristã da Queda é a única pista para uma tentativa de entendimento dessa tragédia. 

Ninguém é insubstituível?


Recebi um texto por e-mail enviado por meu irmão, Moacir Santos, indigenista, que mora em Recife-PE.  O texto, que não trazia a indicação do autor, tratava de uma reunião de avaliação de resultados de uma grande empresa, momento em que o CEO, diante dos indicadores em queda, ameaçava veladamente sua equipe com a famosa frase “Ninguém é insubstituível”.  Um dos gestores presentes levantou timidamente a mão e fez um belo discurso sobre a “insubstituibilidade” das pessoas, citando Beethoven,  Tom Jobim,  Ayrton Senna, Ghandi, Frank Sinatra, Garrincha, Santos Dumont, Monteiro Lobato & Cia Ltda. Para fechar instou o seu CEO a focar no brilho em vez de nas fragilidades de sua equipe.

Respondi assim:

É isso, meu caro, cada pessoa é única, claro.

Acontece que nossas fraquezas, falhas, erros de caráter, sempre estão presentes. É preciso considerá-los, tentar reduzi-los, mantê-los sob controle. Sem pressão, ficamos parados, não nos movemos.  Sem controle tendemos a tiranizar os outros em nosso favor. 

Tem gente que precisa mesmo ser substituída numa equipe. Não coopera, não responde aos princípios, não soma pra o resultado. Talvez esteja na equipe errada. O erro do tal CEO nervoso do exemplo foi usar de uma ameaça velada como forma covarde de pressão. 

Acredito que podemos pensar nas pessoas como peças, sim, não são exatamente "peças", como as mecânicas: rígidas, imutáveis, projetadas e construídas de uma vez para desempenhar uma única função de forma perfeita e que, quando desgastadas pelo uso, devem ser descartadas e substituídas por uma novinha em folha (um amortecedor automotivo, por exemplo).  As pessoas são como peças, sim, mas de um outro gênero, "construídas" ao longo da vida, a partir de características inatas e de outras agregadas da cultura e da sociedade. São tipos de peças não rígidas, não fixas, não pré-moldadas de forma definitiva. São intercambiáveis, não descartáveis. São agentes de interação e só são úteis em equipes. Ninguém vale nada sozinho.  

Se uma equipe tem peças não alinhadas com os seus propósitos é razoável que possam vir a ser substituídas por outras melhor alinhadas. As retiradas devem ser destinadas a outras equipes com as quais seus propósitos melhor se alinhem.  E assim o mundo segue, pois há lugar para todos - inclusive na cadeia (deveria haver, nesse caso, especialmente para ricos).

Complicado, não? É que esse tipo de texto pode nos induzir a atitudes um tanto quanto condescendentes (pra não dizer piegas). Aos gênios (Beethoven & Cia) perdoamos todas as falhas, inclusive lhes damos os direitos de até desrespeitar a humanidade dos demais mortais).  É que a luz deles ofusca seus pecados. Vide Steve Jobs. E por aí vai.

No fim, como meu velho pai dizia: "A cera humana..."

E você, o que acha?

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Eliana Calmon convoca Jesus por testemunha.

Jesus certa vez contou uma parábola um tanto quanto insólita. Era pra incentivar os crentes a orar a Deus sem desistir. Até hoje sou enculcado com esse negócio de orar, qual o verdadeiro sentido da oração. Se Deus sabe tudo o que precisamos e o que é importante para nós e ele é bom e nos ama, por que Jesus insistiu tanto para que orássemos sempre?  Bom, agora isso não vem ao caso. O importante é que Jesus contou a tal parábola insólita. A propósito, o que é “insólita”? O dicionário diz que é a forma feminina de um adjetivo, que fala de uma coisa que é inesperada, estranha, surpreendente, pouco usual, inusitada. Usei esse adjetivo para essa parábola porque eu sempre me surpreendi com ela, nunca esperaria esse tipo de comparação naquele ponto do discurso de Jesus, quando ele falava da necessidade de o crente orar sem desistir.  Mas, homem, vamos à tal parábola insólita, por favor!

Então tá. Pode acha-la no evangelho de Lucas, capítulo 18, versículos de 1 a 8. Jesus disse que uma certa viúva procurou um juiz para que este julgasse sua causa que tava engavetada. Coitada da viúva, pobrezinha, sem poder pagar “adevogado”, nem oferecer algum percentual da causa, vê o tempo passar e nada de julgamento. Nada se sabe sobre que causa era essa, apenas que era contra “o meu adversário”. A velha tava vendo a hora morrer antes do tal juiz decidir. Mas Jesus disse que a pobre todo dia ia ao fórum: “Doutor, julga minha causa”. Imagina o doutorzão todo “nos trajes”, todo protocolizado, descendo do seu Landau (faz tempo, gente!) e dirigindo-se para os degraus do prédio imponente, apressado! A pobrezinha ali, na sua insignificância, de vestido preto, roto, cabelo desgrenhado, cheirinho de talco Barla, quatro dentes na boca... “Doutor, julga minha causa!”. Só dizia isso. Gritava, na verdade, meio que de longe. O juiz olhava “de esguelha” e dizia consigo mesmo “Ô velha chata... vou julgar a causa dela hoje!”. Mas, quando sentava na sua sala chique, telefone toca aqui, celular ali, é o Colaço de Herodes, é Dr. Astúrius, o Centurião Maximus lhe espera, Princesa Judite mandou um bilhetinho, videoconferência com o Procônsul Cesárius... e vai que vai, vira daqui, puxa dali...  Acabou o dia. Afinal dia de juiz é mais curto, não se esqueçam. E a semana também, pois ele chegava de Jerusalém na 2ª à tarde, trabalhava de terça a quinta e voltava na sexta cedinho pra a capital (isso vem de longe, gente! De looonge!).   Dia seguinte, lá se vem o Landau de novo. Motorista desce e abre a porta para o togado. Ele corre apressado para subir os degraus e... “Doutor, julga minha causa!”.  “Putsgrila, de novo essa velha! Caramba, eu vou julgar a droga do processo dela agooora, antes de começar qualquer coisa. Não aguento mais esse chafurdo”.  Lá dentro, manda o oficial procurar o processo. “Doutor, nós não botamos ainda no computador os processos velhos, só os novos. O dela deve de tá lá na Escola de Tirano. Vou mandar o pessoal localizar. Mas vai levar bem uma semana, eu acho”.  “Não é possível! Mais uma semana de a velha gritando na escadaria!”. E assim foi. Todos os dias da semana seguinte, a velha lá: “Doutor, julga minha causa”. Té que um dia, o juiz recebeu o processo. Tava cheio de pó. Fazia uns 2 anos que faltava só um despacho dele. Era um caso simples, muito simples. Só precisou escrever duas linhas e assinar. “Ave-maria-cruz-credo! Tou livre! Publica aí no Diário Oficial de Roma e comunica logo àquela doida lá na calçada. Não quero ouvir mais seu grito amanhã!”.

Faltou eu dizer só um detalhe: Jesus falou que esse juiz era de um certo tipo: dum tipo que “não temia a Deus nem respeitava homem algum”.  Conhece algum juiz desse tipo hoje em dia? Eu só mudaria a última parte: “nem respeita homem algum que não seja influente”. Creio que Jesus queria dizer isso mesmo, pode ter certeza. É linguagem hiperbólica.

É ou não é insólita essa parábola? Por que?  Porque é meio estranho ilustrar a resposta de Deus às nossas orações com a do tal juiz, não?  Jesus encerra a parábola assim: “Considerai no que diz este juiz iníquo: ‘Bem que eu não temo a Deus, nem respeito a homem algum;
todavia, como esta viúva me importuna, julgarei a sua causa, para não suceder que, por fim, venha a molestar-me’”. E, em seguida, Jesus fecha com a aplicação:  “Não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que a ele clamam dia e noite, embora pareça demorado em defendê-los? Digo-vos que, depressa, lhes fará justiça. Contudo, quando vier o Filho do Homem, achará, porventura, fé na terra?”  Ponto.

Mas, pera aí, como foi que Jesus referiu-se ao juiz?  “Juiz iníquo”!  Sim, Jesus disse que o juiz era iníquo! Tinha desse tipo naquele tempo. Continua hoje. Certamente tinham “adevogados” iníquos naquele tempo; tem também hoje. Assim como engenheiros iníquos, professores iníquos, empresários, psicólogos, médicos, administradores, cientistas, sociólogos, escritores, padres, pastores, motoristas, pedreiros, pais e mães de família, negros, brancos, asiáticos, héteros e homossexuais, políticos.... a cretinice não tem fronteiras. É democrática; ampla, geral e irrestrita!

Então por que o rebu geral nas cortes brasileiras quando a ministra Eliana Calmon disse que “há juízes criminosos infiltrados no judiciário”?  É ou não é verdade? Quem pode negar isso? Quer dizer que podemos afirmar que há gente desonesta infiltrada em tudo que é grupo humano, menos dizer isso dos juízes, não é?

Os juízes honestos, íntegros, corretos e éticos – a maioria – não se sentiram ofendidos pelas declarações da Ministra. Pelo contrário, concordaram plenamente e deram apoio a ela, pois sabem, mais do que ninguém, que a moralização do judiciário vai ser boa para eles e para a sociedade.  Contudo aqueles que temem, por alguma razão, vestiram a carapuça.

Dona Eliana, a senhora está acompanhada de ninguém menos do que Jesus Cristo em sua afirmação! Não é uma companhia de se desprezar, não é mesmo?

sábado, 1 de outubro de 2011

Tente explicar I



Menino de 10 anos, de família tranquila, de pais evangélicos, querido por todos, bons relacionamentos no lar e na vizinhança. Na escola boas notas, amizades, elogios. Na igreja toca bateria no grupo de louvor. Vive bem, sem conflitos com o único irmão, mais velho, de 14 anos. Família sem grandes posses, mas financeiramente equilibrada.  Um belo dia anuncia que irá matar a professora. Os poucos colegas de classe que ouvem essa história acham-na tão absurda que nem consideram a hipótese de leva-la a sério. No dia seguinte, pega o revólver do pai, policial, que sabia estar escondido em certo lugar. Põe na mochila. O pai leva os irmãos à escola, à pé, pela mão, como todo dia, pois moravam a um quarteirão do colégio. Um dia como outro qualquer. Não foi.

Ao chegar em casa para pegar o revólver para o trabalho o pai não o encontra. Desesperado liga para a esposa. Ela diz que não tem ideia do que ocorreu. Mais desesperado ainda o pai corre à escola e manda chamar os filhos. Eles descem e dizem que não pegaram a arma. “Como eles não costumavam mentir e falaram com tanta segurança, acreditei piamente” disse depois à polícia. O pai volta pra casa e continua a procurar a arma. Fica imaginando que talvez algum estranho a tenha pego. Não, nada havia que indicasse essa hipótese. Onde estaria essa arma? O pai estava convencido que não estava com os meninos. Estava.

A notícia correu pela rua a partir da porta principal da escola como um rastilho de sombra lúgubre, um rastro do pó escuro de morte. Percorre as ruas em todas as direções. Bate na porta do pai que, ao telefone, ligava para os companheiros de farda tentando uma explicação e buscando ajuda acerca do sumiço da arma. Não precisava mais. A resposta veio de chofre: seu filho mais novo acabara de atirar contra a professora e depois contra a própria cabeça. Acabou.

Essa nem Freud explica! Os psicólogos e outros profissionais das humanidades estão perplexos. Nós todos, mais ainda que eles. Pode ser que, mais tarde, depois de muita investigação e análise de novos dados e fatos, cheguem a alguma mínima explicação. Talvez. Somos pessoas de senso. As coisas têm que fazer sentido para nós, ainda que menos do que precisamos. Nós precisamos de sentido nas coisas, sentido da vida.

Para nós fica a inquietação, a certeza que, afinal, não chegamos a conhecer nem a nós mesmos, nem a humanidade que nos cerca. “Há mais mistérios entre o céu e a terra do que supõe a nossa vã filosofia” escreveu com costumeira lucidez o grande Sheakpeare na sua notável obra Hamlet. Sim, muitos mistérios, muito mais do que podemos supor, não apenas na vã filosofia mas em tudo o que concerne à nossa vã condição humana. 

Segue a vida. Enquanto seu lobo não vem. Que esse acontecimento ao menos sirva para nos deixar mais humildes, conscientes de nossas próprias limitações. E que cada pessoa encontre o sentido da existência, da espécie e da sua própria, pois que dentro de cada um clama uma ânsia de infinitude que nunca pode calar.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Aulas de Japonês







Certamente não interessa muito para a 99,99% do povo brasileiro assistir aulas de japonês. Mas bem que seria de grande proveito aprender aulas de japoneses. Tem duas bem práticas e incomparavelmente mais simples do que os complicadíssimos ideogramas. Uma vem do campo ético e outra da cidadania.

A lição de japonês do campo ético é aquela que veio da TV, que diz que os japoneses encontraram milhares de carteiras porta-cédulas e cofres nos escombros do tsunami. Neles o equivalente a cerca de 78 milhões de dólares – isso mesmo: 78 MILHÕES DE DÓLARES – correspondente a perto de 125 milhões de reais. O valor é próximo do maior premio da Mega-sena já pago no Brasil (145 milhões de reais em 2009).  O “pior” (para vergonha nossa): a polícia japonesa montou um comitê especial para localizar cada um dos donos da grana e devolver pessoalmente cada centavo. (Pare e pense na polícia brasileira!) Os policiais ficaram satisfeitos por conseguirem devolver mais de 90%, mas a maior frustração – que resultou em pesar público – foi não ter conseguido localizar todos os donos. O resto do dinheiro teve que ser destinado a um fundo de recuperação patrocinado pelo Governo. E, “pior ainda” (mais vergonha para nós): não apareceram os aproveitadores (tão típicos da nossa cultura) para “reivindicar” o que não havia sido identificado. No Brasil vira notícia de destaque nacional, digna de louvor e premiação quando UMA pessoa acha UMA pasta com UM mil dólares e devolve.  Precisa falar mais alguma coisa?

Outra aula de japonês (também deu na TV, no Jornal Hoje do dia 29/09/11): No Japão as crianças ajudam diariamente na limpeza da escola onde estudam. A reportagem mostrou as cenas de crianças de 8 a 12 anos varrendo, passando pano de chão, limpando carteiras, mesas, recolhendo o lixo de cada dia depois das aulas. Imagine a compreensão da importância de ter um ambiente limpo quando a própria criança participa da tarefa de limpá-lo! Será que ela vai achar tão natural jogar lixo no chão como as daqui? “Trabalho infantil” – dirão as ONGs extremistas brasileiras! “Onde já se viu, que absurdo! Criança é pra brincar.”.  Sem dúvida o que as crianças fazem no Brasil – sujar a escola para os outros limparem – deve ser o correto, não é mesmo?

Pensando bem, essas lições de japonês talvez sejam muito mais difíceis de aprender do que os ideogramas da língua.  Ou não?

  

domingo, 18 de setembro de 2011

É o fim da Lei Seca?



O STF acabou de desclassificar o crime doloso cometido por motorista embriagado, reclassificando-o para homicídio culposo.  O caso deu-se no julgamento de um HC em favor de um acusado de, em estado de embriagues alcoólica, atropelar e matar uma mulher que caminhava na calçada, numa pequena cidade do interior de SP. O HC foi concedido agora, dia 14 de setembro de 2011, pela primeira turma do STF. A ministra relatora, Carmen Lúcia, votou pela denegação do HC. Porém o Ministro Luz Fux, divergindo da relatora, foi acompanhado pelos demais e o HC foi concedido. Este julgamento marca  a história do judiciário brasileiro pois inicia uma compreensão bastante diversa do que vinha sendo seguida nas instâncias inferiores.

Li o voto do Ministro Fux. Para mim, leigo no assunto e apenas um cidadão indignado, não foi nada fácil entender. Os especialistas que se manifestaram em blogs e reportagens pela internet foram, na maioria, favoráveis ao STF. Então, quem sou eu, né?

Pelo que eu entendi do que disse o ministro Fux não ficou provado que o sujeito queria matar aquela pessoa, nem que anuiu com o fato. Também  não bebeu premeditadamente para matar. Diz ainda que a diferença entre o dolo eventual e a culpa consciente reside justamente na pretensão original antecedente ao fato.  Assim, segundo o ministro – que, aliás, como é de praxe nas cortes, alicerçou seu voto com farta doutrina e jurisprudência - ninguém se embriaga e em seguida vai dirigir pensando em matar especificamente alguém – a não ser que isso fique provado, já que é possível a hipótese. As pessoas embriagam-se e vão dirigir, sabendo do risco de matar, mas esperam que não aconteça nada.  Isso configura apenas negligência pela violação do dever de cuidado. Já o dolo requer a intenção e a assunção do risco de produzir o resultado morte. Em suma, ninguém, exceto prova em contrário, dirige embriagado com a intenção de matar. Então tá.

Não tenho saber jurídico para contestar. Só sei que, pelos noticiários nos jornais e na TV, ao que parece, na Europa em geral e nos Estados Unidos a legislação é bem mais rígida nesse aspecto, principalmente, quando há morte provocada em decorrência de embriaguez.

A sociedade brasileira logrou acreditar que, com o advento da Lei 11.705/2008 - a chamada Lei Seca – as mortes no trânsito diminuiriam drasticamente. As estatísticas inicias mostraram-se assaz favoráveis. Porém, com o tempo, logo veio a ineficiência dos órgãos e o afrouxamento da fiscalização. A coisa perdeu seu inicial impacto.  Em seguida entrou em evidência o tal princípio da não produção de prova contra si mesmo, que desobriga o motorista de soprar o bafômetro.  Depois, veio a lei que praticamente elimina a prisão preventiva em crimes com pena mínima até 4 anos (Lei 12.403/2011). Agora essa decisão do STF, ainda que, segundo os entendidos, correta, banaliza ainda mais as expectativas do cidadão e lança uma nuvem escura sobre a tão desejada paz no trânsito.  

Então, é isso. O que eu posso dizer mais? Nada. Vou apenas ironizar com minha indignação: Pode beber à vontade. Por que abrir mão do prazer de uma latinhas de cerveja? O risco de acidente é administrável, não é? Acredite, você é o cara. Vai chegar em casa sem problemas. É só ter cuidado. Você pode, sim. Beba numa boa, depois pegue seu carro e vá para casa. Vá devagar e com cuidado. Provavelmente nada vai acontecer. Se for pego numa blitz, não sopre o bafômetro nem faça aqueles testes que eles pedem.  Recuse-se, pois você tem esse direito. Caso, devagar ou em alta velocidade – tanto faz – atropele e mate alguém, calma! Não é o fim do mundo! Você não será preso. Você não queria fazer isso, né? Foi sem querer “querendo”. Homicídio culposo não dá cadeia, nem antes e nem depois do julgamento.  Se condenado, terá uma pena de 2 a 4 anos de prisão, que será convertida em pagamento de fiança, ou monitoramento eletrônico, ou recolhimento domiciliar noturno, ou proibição de viajar ou frequentar bares, ou outras coisitas menores.  Mas, por favor, não tenha a desdita de atropelar e matar, digamos, o filho de um... (oops... melhor não falar).  


Desculpem-me. São palavras tolas essas. Desconsiderem, principalmente a última frase, muito infeliz.  Foi só desabafo.


O que eu desejo é que haja mais justiça. Se o STJ está correto em desclassificar o dolo na embriaguez ao volante, se o Legislativo está certo em flexibilizar a prisão para o homicídio culposo; se ninguém é obrigado a soprar um bafômetro, ou a responder aos testes de embriaguez, ou a colher sangue para análise de teor alcoólico, se a fiscalização não funciona....   só espero que os especialistas reavaliem a questão e encontrem não só uma maneira de fazer vigorar de verdade a Lei Seca, como também uma fórmula mais justa de penalização para quem, bêbado, mata ao volante. Do jeito que está não pode ficar. Ou pode?

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Qualidade na escola pública. O que queremos?




Qualidade é hoje a palavra da moda no mundo empresarial. Foi o engenheiro americano William Deming que a pôs em evidência na indústria japonesa no pós-guerra. O núcleo desse conceito subverte o paradigma anterior: a melhoria da qualidade resulta na redução das despesas e no aumento da produtividade. Antes a indústria tinha que aumentar a produção de bens de consumo. Qualidade não era tão importante e representava um custo a mais. Deming contrariou essa lógica e revolucionou os princípios da nova gestão industrial. Como consequência desse novo valor na gestão a importância do planejamento ficou ainda mais evidente.   Gerenciar sem olhar para o futuro é perda de tempo, recursos e gera atraso.

Que boas lições para o setor público. Especialmente para os ministérios de base, como educação, saúde e segurança pública.  

Deming elaborou os seus famosos 14 pontos para a gestão da qualidade total (veja em http://pt.wikipedia.org/wiki/W._Edwards_Deming).   Há controvérsias em torno deles, claro. Mas tem coisas interessantes. Por exemplo: 1-Criar constância de propósito de aperfeiçoamento de produto e serviço. 4-Acabar com a ideia de negócio compensador baseado no preço. E 10-Eliminar slogans, exortações e metas numéricas dirigidas aos empregados.  Se pelo menos esses três princípios fossem aplicados à educação, por exemplo, teríamos uma pequena revolução  iniciadora de uma grande mudança.

Como assim? O item 1-constância de propósitos de aperfeiçoamento até dá pra entender:  focar na melhoria e não apenas na produção. Produzir mais, sim, mas também produzir melhor. Produzir mais do melhor. O que aconteceu no MEC com sua política de universalização do ensino? Produzir mais do ruim, ou seja, mais educação ruim para mais gente; mais péssimas escolas para mais brasileiros.  A que isso nos leva?  Qual indústria sobreviveria enchendo o mercado de canetas que falham, tênis que rasgam-se ou de cadeiras que se quebram? Onde um país quer chegar multiplicando escolas que não ensinam para alunos que não aprendem?

Certo. Mas, e quanto ao ponto 4? Negócio compensador? Negócio no setor público? Sim, pois o setor público tem uma lógica dos negócios no que tange ao seu lado político. E o retorno, o lucro da política, chama-se voto. Quanto mais produtos vender, mais retorno terá. Quanto mais “obras” se fizer, mais votos em retorno. E com mais votos, mais tempo no poder. E o poder é o grande alvo dos políticos corruptos. Então, você anda pelo interior dos estados nesse brasilzão e cansa de ver Escola Fernanda Sarney, Escola Municipal Mário Covas, Centro Educacional Antônio Carlos Magalhães, Grupo Escolas Nome-de-político-qualquer e por aí vai. Quantidade dá voto. Fachada dá voto.

E o ponto 10: eliminar slogans e metas numéricas. Aí a coisa pega. Cada governo que entra adota uma logomarca diferente da oficial e cria um slogan. Assim driblam a lei que proíbe a personalização da função pública. Basta olhar a logomarca que o eleitor já sabe quem é o governador. Botar a logomarca em obras públicas então, perpetua a espécie. E tome números. Números, números e números. É o que importa. Metas numéricas. Quem vê as estatísticas de vagas na escola pública brasileira fica impressionado.  Mas todos sabemos que a maioria das escolas públicas do ensino básico no Brasil encontram-se em estado deplorável.

É hora de rever essa política. Hora de investir mais em Educação com E maiúsculo, centrada no aumento da qualidade do ensino. Os resultados vão demorar 15, 20 anos para aparecerem. Mas já se passaram 26 anos do regime militar e nada de resultados. Chegamos ao caos. Continuar com essa política é suicídio. Ou preservação do status-quo. Será isso que eles querem mesmo? Tomara que não.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Rosete no país do nunca-antes.




Rosete, uma brasileira. Pobre. Família típica dentre muitas por aí. A Dona Mãe de Rosete ficou órfã de mãe aos 8 anos, viveu com seus três irmãos e com o pai, mas logo os mais velhos casaram-se. A Dona Mãe de Rosete, num meio social de pobreza e subsistência, sem possibilidade alguma de educação, só tinha um destino: casar-se nova. Casou-se aos 15. Teve cinco filhos. Rosete foi a penúltima.

Rosete cresceu. Viu pouca convivência de pai e mãe. Já adolescente, viu pai e mãe juntos mas separados, apenas morando sob o mesmo teto. Conflitos, desencontros, discussões, brigas, sofrimento, poucos momentos de alegria.

Rosete viveu sua adolescência no momento em que o mundo dava sua grande virada social e cultural. O celular e a internet chegaram e transformaram a maneira como as pessoas se relacionam. Revolução dos valores! O mundo virou de cabeça pra baixo. Novos grupos de validação da moral e da ética, em grande vantagem sobre a família, a igreja e a escola. 

Rosete descobriu que a vida sexual livre era possível. Deus não castigava, não mandava um raio fuzilador sobre o pecador. E ainda dava até pra ganhar algum dinheiro. A tentação era grande. Mas Rosete não queria aquilo. Antevia qual seria o  fim. Mesmo sem o freio da religião funcionando, Rosete usou seu próprio freio. A saída? Mais uma vez, casar-se. E Rosete casou-se. Com um jovem também, trabalhador, que dá duro.

O relógio toca às 5 da manhã todo dia na casa de Rosete, na capital onde mora com seu marido. Eles se arrumam e saem apressados. O café, no trabalho. Andam 15 minutos até o primeiro ônibus, que passa pontualmente às 5:30h. Se perderem esse, chegarão atrasados. Próxima parada, terminal da integração, depois de 40 min de viagem. De lá, outro ônibus e mais meia hora até ao trabalho. Entram às 7 da manhã, saem às 16h. Hora e meia e dois ônibus depois, de volta à casa, lá pelas 17:30h. Tomar banho, lavar roupa, arrumar a casa, fazer compras, fazer comida e tudo o que der pra fazer até às 18:30h no máximo, pois Rosete tem que sair nessa hora, andar um quilômetro e meio apressada pra chegar, suada e arfante, à faculdade particular onde faz o curso de administração. Aulas até as 22:50h. O marido de Rosete vai busca-la. Andam um quilômetro e meio de volta, numa região perigosa, àquela hora da noite.  Depois do banho, lanche, soltar o botão do despertador e cama.

Essa rotina repete-se seis dias por semana. O sábado é um dia quase comum. Eles apenas chegam em casa coisa de uma hora mais cedo. Só sobra o domingo, onde Rosete vai de manhã pra a igreja. É onde respira social e espiritualmente, onde encontra pessoas que lhe abraçam, que conversam com ela, beijam e perguntam como vai sem ser por educação.  À noite, quando dá, volta à igreja, dessa vez com o marido. Tempo pra estudar? Pouco. Rosete tem que se contentar com o que aprende na sala de aula. Leitura complementar, quando? Como? Onde?  Segue a vida, Rosete, sem novela, sem noticiário, sem internet, sem estar no mundo, simplesmente por: falta de tempo. A prioridade é sobreviver.

Rosete e seu marido recebem líquido R$ 1.540por mês, somados os dois salários. Pagam R$ 250 de aluguel e R$ 400 da faculdade. Sobram R$ 890 para todo o resto: água, luz, telefone, gás, alimentação, vestir, calçar, ajudar a família, etc., etc. Pra duas pessoas, sem filhos, dá de sobra. São quase R$ 30 por dia, uma “fortuna” se for ver a miséria em volta. Eles reservam um pouco para uma poupança, para as emergências.  Ela os salva quando atrasos salariais acontecem.  Essa é a classe que fugiu da miséria e adentrou à linha de consumo. E essa é a “educação” a que essa classe tem “direito”.

Quantas vagas no ensino superior no Brasil são ocupadas por Rosetes?  Qual a importância dessas estatísticas que dizem que o governo do nunca-antes propiciou não-sei-quantas-mil vagas para os pobres no ensino superior? Certamente é “menos ruim” assim, mas é isso que queremos? O menos pior? Isso é normal? Isso é o possível? Essa é a sociedade que estamos construindo?  Onde vamos chegar com esse sistema?

Investir na educação básica deveria ser a maior de todas as prioridades. Mas isso é pra outro post. Por hora basta. Rosete, seu marido e milhões de brasileiros como eles são felizes ainda. Milhões de outros não tem a chance de apenas subsistir de forma semelhante.  E o presente não aponta para nada de tão diferente no futuro. Assim penso eu. E você?

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Eu sou Honesto?


Será que é possível aferir o grau de honestidade de uma pessoa? 


Tá Reclamando do Lula? do Serra? da Dilma? do Arruda? do Sarney? do Collor? do Renan? do Palocci? do Delúbio? Da Roseana Sarney? do Jucá? do Kassab? Dos mais 300 picaretas do Congresso?


Perambulando pelos sites na internet encontrei um texto sem autoria definida que fazia questionamentos éticos aos que facilmente gostam de criticar os políticos corruptos. Imediatamente tive a ideia de ajustar aquelas questões e criar um teste de honestidade.



Esse teste não tem valor científico, pois a moral e a ética estão fora do campo da ciência. Não há como aferi-los matematicamente.  O critério de apuração e os padrões de referência (faixas e classificação) são, evidentemente, bastante subjetivos. Porém podem servir como uma referência, ainda que não absoluta, com o objetivo de gerar alguma reflexão e confrontar a realidade da nossa condição humana.



Antes, deixe-me trazer aqui uma parábola que Jesus contou aos seus discípulos: a parábola dos talentos. Ela é muito ilustrativa do que acontece normalmente na vida social. Diz que um rico proprietário fizera uma longa viagem. Antes, porém, chamou seus servos e lhes distribuiu porções em dinheiro (que na parábola são chamados de talentos) a cada um para que administrassem. Ao retornar, vieram prestar contas. Todos multiplicaram seus talentos, exceto um, justo aquele que recebera menos, que resolveu enterrar o seu único talento. A cada um dos demais servos, que multiplicaram seus talentos, o proprietário recompensou dizendo: “foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei” e àquele que enterrou o talento e não o multiplicou disse “tirai-lhe o talento e dai-o ao que tem mais; pois ao que tem ser-lhe-á dado, mas ao que não tem, até o que tem lhe será tirado”.


Dessa parábola quero pinçar apenas a primeira resposta do proprietário aos seus servos fiéis: “foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei”

Todos estamos indignados com o nível de corrupção que atingiu a vida pública brasileira em todos os níveis. E, o pior, em vez de diminuir, a corrupção só faz aumentar.  Chegamos a admitir um “certo grau” de tolerância. Mas será isso correto?

No início dos anos 1990 o Maranhão foi governado por João Alberto, político vinculado ao grupo Sarney e que atualmente também é, como Sarney, senador pelo Maranhão. João Alberto protagonizou então um dos bordões políticos mais lastimáveis, como diria o ex-presidente Lula, desde “nuncaantesnahistóriadestepaís”. Em 1992, candidato a prefeito da Capital, mandou publicar em outdoors por toda a cidade: “Fiz um governo 90% honesto”.  Dr.  Jackson Lago, então prefeito em segundo mandato, patrocinando a eleição de Conceição Andrade, publicou em outros outdoors: “Quem é 90% honesto é 100% desonesto”.  João Alberto foi derrotado e carrega até hoje esse estigma: 90% honesto.

Na época cheguei a dizer que se João Alberto tivesse realmente sido 90% honesto ele já seria, de longe, um dos mais honestos políticos desse país, tal o grau de corrupção que estávamos vivendo. Lastimavelmente talvez hoje ainda seja razoável essa afirmação.  Ao que parece o sistema político não admite uma liderança com o nível de honestidade de100%.

Será que fazer pequenas concessões à ética é aceitável? Será que é razoável alguém ser 90%, 95% (ou outro percentual qualquer) honesto?  Será que uma pessoa que não é fiel no pouco, poderá sê-lo no muito? 


Faça o Teste de Honestidade Pessoal e veja se você tem credibilidade para criticar os políticos.

Marque:  A=Nunca;  B=Às vezes;  C=Geralmente;  D=Sempre

1.       - Fura filas nos bancos, utilizando-se das mais esfarrapadas desculpas?  [      ]
2.       - Fala no celular enquanto dirige?  [      ]
3.       - Estaciona nas calçadas, muitas vezes debaixo de placas proibitivas?        [      ]
4.       - Suborna ou tenta subornar quando é pego cometendo infração?      [      ]
5.       - Troca voto por qualquer coisa: areia, cimento, tijolo, e até dentadura?    [      ]
6.       - Usa o telefone da empresa onde trabalha para ligar para o celular dos amigos? [       ]
7.       - Trafega pelo acostamento num congestionamento?      [       ]
8.       - Para em filas duplas, triplas, em frente às escolas?      [      ]
9.       - Viola a lei do silêncio?    [      ]
10.   - Dirige após consumir bebida alcoólica?    [      ]
11.   - Espalha churrasqueira, mesas, nas calçadas?     [      ]
12.   - Pega atestado médico sem estar doente, só para faltar ao trabalho?   [      ]
13.   - Faz "gato " de luz, de água e de tv a cabo?       [      ]
14.   - Registraria um imóvel num valor mais baixo para pagar menos impostos? [      ]
15.   - Saqueia cargas de veículos acidentados nas estradas?   [      ]
16.   - Compra recibo para abater na declaração de IR para pagar menos imposto? [      ]
17.   - Declararia se negro para ingressar na universidade através do sistema de cotas?  [      ]
18.   - Em viagem a serviço, se o almoço custou 10, pede nota fiscal de 20?  [      ]
19.   - Comercializa objetos doados nessas campanhas de catástrofes?   [      ]
20.   - Estaciona em vagas exclusivas para deficientes?    [      ]
21.   - Adultera o velocímetro do carro para vendê-lo como se fosse pouco rodado? [      ]
22.   - Compra produtos pirata com a plena consciência de que são pirata?   [      ]
23.   - Substitui o catalisador do carro por um que só tem a casca?     [      ]
24.   - Mente a idade do filho para que passe por baixo da roleta do ônibus sem pagar? [      ]
25.   - Emplaca o carro fora do seu domicílio para pagar menos IPVA?   [      ]
26.   - Frequenta os caça-níqueis e faz uma fezinha no jogo de bicho?     [      ]
27.   - Leva do trabalho pequenos objetos, (clipes, envelopes, canetas, lápis)?   [      ]
28.   - Comercializa os vales-transporte e vales-refeição que recebe da empresa?  [      ]
29.   - Ao voltar do exterior mente ao fiscal sobre o que traz na bagagem?  [      ]
30.   - Acha um objeto, com a identificação do dono, mas fica com ele?  [      ]
31.   - Coloca nome em trabalho que não fez?    [      ]
32.   - Coloca nome de colega que faltou em lista de presença?   [      ]
33.   - Paga para alguém fazer seus trabalhos?   [      ]
34.   - Acha uma carteira c/documentos e R$ 1000, devolve mas fica com o dinheiro? [      ]
35.   - Lava a calçada com água tratada?      [      ]
36.   - Fura o sinal quando não há um sensor fotográfico?    [      ]
37.   - Fica com o troco a mais que, por engano, recebeu no caixa do supermercado? [      ]
38.   - Usa os R$1000,00 depositado na sua conta, sem procurar saber a origem?     [      ]
39.   - Bate num carro ao manobrar e, como ninguém viu, vai embora aliviado?     [      ]
40.   - Subtrai pequenos objetos de gôndolas de supermercado e põe na bolsa?      [      ]       


As respostas ao teste coloquei no post anterior. Faça o teste sinceramente, para sua economia pessoal.

Anote num papel as quantidade de respostas A; B; C e D. Só então, veja a apuração no blog anterior.

Mas se você conseguir enganar-se a si mesmo, não precisa olhar a resposta.