Rosete, uma brasileira.
Pobre. Família típica dentre muitas por aí. A Dona Mãe de Rosete ficou órfã de
mãe aos 8 anos, viveu com seus três irmãos e com o pai, mas logo os mais velhos
casaram-se. A Dona Mãe de Rosete, num meio social de pobreza e subsistência,
sem possibilidade alguma de educação, só tinha um destino: casar-se nova.
Casou-se aos 15. Teve cinco filhos. Rosete foi a penúltima.
Rosete cresceu. Viu pouca
convivência de pai e mãe. Já adolescente, viu pai e mãe juntos mas separados,
apenas morando sob o mesmo teto. Conflitos, desencontros, discussões, brigas,
sofrimento, poucos momentos de alegria.
Rosete viveu sua
adolescência no momento em que o mundo dava sua grande virada social e
cultural. O celular e a internet chegaram e transformaram a maneira como as
pessoas se relacionam. Revolução dos valores! O mundo virou de cabeça pra
baixo. Novos grupos de validação da moral e da ética, em grande vantagem sobre
a família, a igreja e a escola.
Rosete descobriu que a
vida sexual livre era possível. Deus não castigava, não mandava um raio
fuzilador sobre o pecador. E ainda dava até pra ganhar algum dinheiro. A
tentação era grande. Mas Rosete não queria aquilo. Antevia qual seria o fim. Mesmo sem o freio da religião
funcionando, Rosete usou seu próprio freio. A saída? Mais uma vez, casar-se. E
Rosete casou-se. Com um jovem também, trabalhador, que dá duro.
O relógio toca às 5 da
manhã todo dia na casa de Rosete, na capital onde mora com seu marido. Eles se
arrumam e saem apressados. O café, no trabalho. Andam 15 minutos até o primeiro
ônibus, que passa pontualmente às 5:30h. Se perderem esse, chegarão atrasados.
Próxima parada, terminal da integração, depois de 40 min de viagem. De lá,
outro ônibus e mais meia hora até ao trabalho. Entram às 7 da manhã, saem às
16h. Hora e meia e dois ônibus depois, de volta à casa, lá pelas 17:30h. Tomar
banho, lavar roupa, arrumar a casa, fazer compras, fazer comida e tudo o que
der pra fazer até às 18:30h no máximo, pois Rosete tem que sair nessa hora,
andar um quilômetro e meio apressada pra chegar, suada e arfante, à faculdade particular
onde faz o curso de administração. Aulas até as 22:50h. O marido de Rosete vai
busca-la. Andam um quilômetro e meio de volta, numa região perigosa, àquela
hora da noite. Depois do banho, lanche,
soltar o botão do despertador e cama.
Essa rotina repete-se seis
dias por semana. O sábado é um dia quase comum. Eles apenas chegam em casa
coisa de uma hora mais cedo. Só sobra o domingo, onde Rosete vai de manhã pra a
igreja. É onde respira social e espiritualmente, onde encontra pessoas que lhe
abraçam, que conversam com ela, beijam e perguntam como vai sem ser por
educação. À noite, quando dá, volta à
igreja, dessa vez com o marido. Tempo pra estudar? Pouco. Rosete tem que se
contentar com o que aprende na sala de aula. Leitura complementar, quando? Como?
Onde? Segue a vida, Rosete, sem novela,
sem noticiário, sem internet, sem estar no mundo, simplesmente por: falta de
tempo. A prioridade é sobreviver.
Rosete e seu marido
recebem líquido R$ 1.540por mês, somados os dois salários. Pagam R$ 250 de
aluguel e R$ 400 da faculdade. Sobram R$ 890 para todo o resto: água, luz,
telefone, gás, alimentação, vestir, calçar, ajudar a família, etc., etc. Pra
duas pessoas, sem filhos, dá de sobra. São quase R$ 30 por dia, uma “fortuna”
se for ver a miséria em volta. Eles reservam um pouco para uma poupança, para
as emergências. Ela os salva quando
atrasos salariais acontecem. Essa é a
classe que fugiu da miséria e adentrou à linha de consumo. E essa é a “educação”
a que essa classe tem “direito”.
Quantas vagas no ensino
superior no Brasil são ocupadas por Rosetes?
Qual a importância dessas estatísticas que dizem que o governo do nunca-antes
propiciou não-sei-quantas-mil vagas para os pobres no ensino superior? Certamente
é “menos ruim” assim, mas é isso que queremos? O menos pior? Isso é normal? Isso
é o possível? Essa é a sociedade que estamos construindo? Onde vamos chegar com esse sistema?
Investir na educação
básica deveria ser a maior de todas as prioridades. Mas isso é pra outro post.
Por hora basta. Rosete, seu marido e milhões de brasileiros como eles são
felizes ainda. Milhões de outros não tem a chance de apenas subsistir de forma
semelhante. E o presente não aponta para
nada de tão diferente no futuro. Assim penso eu. E você?
Penso o mesmo! Tempo hoje é algo tão precioso que quando este nos sobra temos que escolher no "uni duni tê" como podemos aproveita-lo!
ResponderExcluirBeijocas
Isa