Seu Lobo

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terça-feira, 13 de setembro de 2011

Rosete no país do nunca-antes.




Rosete, uma brasileira. Pobre. Família típica dentre muitas por aí. A Dona Mãe de Rosete ficou órfã de mãe aos 8 anos, viveu com seus três irmãos e com o pai, mas logo os mais velhos casaram-se. A Dona Mãe de Rosete, num meio social de pobreza e subsistência, sem possibilidade alguma de educação, só tinha um destino: casar-se nova. Casou-se aos 15. Teve cinco filhos. Rosete foi a penúltima.

Rosete cresceu. Viu pouca convivência de pai e mãe. Já adolescente, viu pai e mãe juntos mas separados, apenas morando sob o mesmo teto. Conflitos, desencontros, discussões, brigas, sofrimento, poucos momentos de alegria.

Rosete viveu sua adolescência no momento em que o mundo dava sua grande virada social e cultural. O celular e a internet chegaram e transformaram a maneira como as pessoas se relacionam. Revolução dos valores! O mundo virou de cabeça pra baixo. Novos grupos de validação da moral e da ética, em grande vantagem sobre a família, a igreja e a escola. 

Rosete descobriu que a vida sexual livre era possível. Deus não castigava, não mandava um raio fuzilador sobre o pecador. E ainda dava até pra ganhar algum dinheiro. A tentação era grande. Mas Rosete não queria aquilo. Antevia qual seria o  fim. Mesmo sem o freio da religião funcionando, Rosete usou seu próprio freio. A saída? Mais uma vez, casar-se. E Rosete casou-se. Com um jovem também, trabalhador, que dá duro.

O relógio toca às 5 da manhã todo dia na casa de Rosete, na capital onde mora com seu marido. Eles se arrumam e saem apressados. O café, no trabalho. Andam 15 minutos até o primeiro ônibus, que passa pontualmente às 5:30h. Se perderem esse, chegarão atrasados. Próxima parada, terminal da integração, depois de 40 min de viagem. De lá, outro ônibus e mais meia hora até ao trabalho. Entram às 7 da manhã, saem às 16h. Hora e meia e dois ônibus depois, de volta à casa, lá pelas 17:30h. Tomar banho, lavar roupa, arrumar a casa, fazer compras, fazer comida e tudo o que der pra fazer até às 18:30h no máximo, pois Rosete tem que sair nessa hora, andar um quilômetro e meio apressada pra chegar, suada e arfante, à faculdade particular onde faz o curso de administração. Aulas até as 22:50h. O marido de Rosete vai busca-la. Andam um quilômetro e meio de volta, numa região perigosa, àquela hora da noite.  Depois do banho, lanche, soltar o botão do despertador e cama.

Essa rotina repete-se seis dias por semana. O sábado é um dia quase comum. Eles apenas chegam em casa coisa de uma hora mais cedo. Só sobra o domingo, onde Rosete vai de manhã pra a igreja. É onde respira social e espiritualmente, onde encontra pessoas que lhe abraçam, que conversam com ela, beijam e perguntam como vai sem ser por educação.  À noite, quando dá, volta à igreja, dessa vez com o marido. Tempo pra estudar? Pouco. Rosete tem que se contentar com o que aprende na sala de aula. Leitura complementar, quando? Como? Onde?  Segue a vida, Rosete, sem novela, sem noticiário, sem internet, sem estar no mundo, simplesmente por: falta de tempo. A prioridade é sobreviver.

Rosete e seu marido recebem líquido R$ 1.540por mês, somados os dois salários. Pagam R$ 250 de aluguel e R$ 400 da faculdade. Sobram R$ 890 para todo o resto: água, luz, telefone, gás, alimentação, vestir, calçar, ajudar a família, etc., etc. Pra duas pessoas, sem filhos, dá de sobra. São quase R$ 30 por dia, uma “fortuna” se for ver a miséria em volta. Eles reservam um pouco para uma poupança, para as emergências.  Ela os salva quando atrasos salariais acontecem.  Essa é a classe que fugiu da miséria e adentrou à linha de consumo. E essa é a “educação” a que essa classe tem “direito”.

Quantas vagas no ensino superior no Brasil são ocupadas por Rosetes?  Qual a importância dessas estatísticas que dizem que o governo do nunca-antes propiciou não-sei-quantas-mil vagas para os pobres no ensino superior? Certamente é “menos ruim” assim, mas é isso que queremos? O menos pior? Isso é normal? Isso é o possível? Essa é a sociedade que estamos construindo?  Onde vamos chegar com esse sistema?

Investir na educação básica deveria ser a maior de todas as prioridades. Mas isso é pra outro post. Por hora basta. Rosete, seu marido e milhões de brasileiros como eles são felizes ainda. Milhões de outros não tem a chance de apenas subsistir de forma semelhante.  E o presente não aponta para nada de tão diferente no futuro. Assim penso eu. E você?

Um comentário:

  1. Penso o mesmo! Tempo hoje é algo tão precioso que quando este nos sobra temos que escolher no "uni duni tê" como podemos aproveita-lo!
    Beijocas
    Isa

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