Gente, vou abrir uma série de pequenos textos, tomando de carona o mote do Globo Esporte, naquele quadro “Inacreditável Futebol Clube”, onde eles comentam os lances mais insólitos (isso mesmo, hehe...) dos campos de futebol.
Vou comentar coisas da vida social e política brasileira que eu leio na mídia que são tão inacreditáveis quanto os mais inacreditáveis dos inacreditáveis gols perdidos. Só que o campo é outro, o da ética, e a bola é a do caráter.
Comecemos pela Câmara dos Deputados. Que lugar poderia ser melhor para essa estreia? (Pior é que tem, e muitos! Lugar para o inusitado no Brasil não falta!). Vamos nos contentar com a Câmara.
Não é que um deputado – só poderia estar dé-PUTADO mesmo o cara – teve a coragem para criar um projeto de Lei para – pasmem, PASMEM! – anistiar os deputados cassados pelo caso do Mensalão? Acredite, o nome da fera é Ernandes Amorim, do PTB de Rondônia. É muita cara-de-pau! O sujeito quer apenas anistiar José Dirceu (PT-SP), Roberto Jefferson (PTB-RJ) e Pedro Corrêa (PP-SP). Só isso! E pra beber, um vinhozinho português, quem sabe!
Segundo o Estadão (Jornal O Estado de São Paulo) o texto desse PL corre em conjunto com outro projeto sobre o tema, de Neilton Mulim (PP-RJ), mas que, bem ao contrário, defende a proibição da anistia a agentes públicos.
O pior é que, de uma maneira misteriosa, esse projeto foi PAUTADO para a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça da Câmara) por nada mais nada menos de quem? Quem? Dou um docinho quebra-queixo, daqueles que se vendem no nordeste em tabuleiros na feira! João Paulo Cunha! Ele mesmo, o que é réu no Mensalão, cuja mulher foi flagrada no caixa do Banco Rural para receber R$ 50 mil do esquema do Mensalão para “pagar a conta da TV a cabo”. O mesmo que foi reeleito pelos paulistanos, uma injustiça a Tiririca. O mesmo que foi escolhido pelos seus companheiros – “mais de 300 picaretas” (lembra?) – para ser simplesmente o presidente da CCJ, a comissão mais importante da casa. O mesmo que, de uma maneira cínica, nega o Mensalão até hoje – como minha mãe costumava dizer: “É a faca entrando e ele negando!”: “Não houve mensalão. Essa é uma injustiça. Falar que houve mensalão é uma injustiça com o PT e com as pessoas envolvidas” – disse em entrevista no programa “É Notícia”, de Kennedy Alencar (http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/tag/joao-paulo-cunha/).
Pego com a mão na massa – o PL cara-de-pau pautado na CCJ – João Paulo Cunha pulou de cá, saltou de lá, deu um monte de desculpas esfarrapadas, mostrou-se “surpreso”, disse que não sabia, que deve ter sido um engano. “Nem sei por que isso foi para a pauta. Alguém deve ter pedido para colocar o outro projeto, do Mulim, e esse veio junto”.
Quer saber: pra mim foi tudo orquestrado. Pega um de-putado-zinho obscuro, dá o serviço sujo pra ele fazer e bota na pauta pra ver o que acontece. Se der certo, maravilha! Se não, sai com essa de “surpresa”, como se fosse fácil pautar um PL na CCJ.
É o Inacreditável Brasil FC. A bola murcha do caráter no campo da ética não entra na trave da moral.