Seu Lobo

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Ele tá vindoooo! Uhauuuu!

sábado, 5 de novembro de 2011

Inacreditável Brasil FC


Gente, vou abrir uma série de pequenos textos, tomando de carona o mote do Globo Esporte, naquele quadro “Inacreditável Futebol Clube”, onde eles comentam os lances mais insólitos (isso mesmo, hehe...) dos campos de futebol. 

Vou comentar coisas da vida social e política brasileira que eu leio na mídia que são tão inacreditáveis quanto os mais inacreditáveis dos inacreditáveis gols perdidos. Só que o campo é outro, o da ética, e a bola é a do caráter.

Comecemos pela Câmara dos Deputados. Que lugar poderia ser melhor para essa estreia? (Pior é que tem, e muitos! Lugar para o inusitado no Brasil não falta!). Vamos nos contentar com a Câmara.

Não é que um deputado – só poderia estar dé-PUTADO mesmo o cara – teve a coragem para criar um projeto de Lei para – pasmem, PASMEM! – anistiar os deputados cassados pelo caso do Mensalão?  Acredite, o nome da fera é Ernandes Amorim, do PTB de Rondônia.  É muita cara-de-pau! O sujeito quer apenas anistiar José Dirceu (PT-SP), Roberto Jefferson (PTB-RJ) e Pedro Corrêa (PP-SP). Só isso! E pra beber, um vinhozinho português, quem sabe!
Segundo o Estadão (Jornal O Estado de São Paulo) o texto desse PL corre em conjunto com outro projeto sobre o tema, de Neilton Mulim (PP-RJ), mas que, bem ao contrário, defende a proibição da anistia a agentes públicos.

O pior é que, de uma maneira misteriosa, esse projeto foi PAUTADO para a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça da Câmara) por nada mais nada menos de quem? Quem? Dou um docinho quebra-queixo, daqueles que se vendem no nordeste em tabuleiros na feira!  João Paulo Cunha! Ele mesmo, o que é réu no Mensalão, cuja mulher foi flagrada no caixa do Banco Rural para receber R$ 50 mil do esquema do Mensalão para “pagar a conta da  TV a cabo”. O mesmo que foi reeleito pelos paulistanos, uma injustiça a Tiririca. O mesmo que foi escolhido pelos seus companheiros –  “mais de 300 picaretas” (lembra?) – para ser simplesmente o presidente da CCJ, a comissão mais importante da casa. O mesmo que, de uma maneira cínica, nega o Mensalão até hoje – como minha mãe costumava dizer: “É a faca entrando e ele negando!”:   “Não houve mensalão. Essa é uma injustiça. Falar que houve mensalão é uma injustiça com o PT e com as pessoas envolvidas” – disse em entrevista no programa “É Notícia”, de Kennedy Alencar (http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/tag/joao-paulo-cunha/).

Pego com a mão na massa –  o PL cara-de-pau pautado na CCJ –  João Paulo Cunha pulou de cá, saltou de lá, deu um monte de desculpas esfarrapadas, mostrou-se “surpreso”, disse que não sabia, que deve ter sido um engano. “Nem sei por que isso foi para a pauta. Alguém deve ter pedido para colocar o outro projeto, do Mulim, e esse veio junto”.

Quer saber: pra mim foi tudo orquestrado. Pega um de-putado-zinho obscuro, dá o serviço sujo pra ele fazer e bota na pauta pra ver o que acontece. Se der certo, maravilha! Se não, sai com essa de “surpresa”, como se fosse fácil pautar um PL na CCJ.

É o Inacreditável Brasil FC. A bola murcha do caráter no campo da ética não entra na trave da moral.


sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Tente Explicar II



Pai advogado abusa da filha por mais de oito anos.  Mãe acoberta.
  
Por que, meu-deus-do-céu?! O que se passa na cabeça de um homem aculturado, numa sociedade de informação, com curso superior em Direito, advogado atuante, assessor jurídico de entidades sindicais, militante de direitos humanos ao sentir atração sexual pela própria filha?!  O que é que um homem com esse perfil social pensa ao ter coragem de tocar as intimidades dessa filha, gostar disso, usar de sua autoridade de pai para iludir a coitada com palavras e argumentações esdrúxulas, para passar das carícias ao abuso maior de estuprar, violentar, vilipendiar a inocência e a confiança dessa criança, tripudiar de sua dignidade, agredir seu foro íntimo, detonar sua autoestima, espezinhar seu valor próprio. Pior, continuar nessa linha de ação por 8 anos! Como pode ver sua filha já adolescente, na fase de arrumar-se, mostrar-se ao mundo como uma flor, descobrir o amor, amar e ser amada, e ainda assim continuar com o abuso? Qual tipo de argumentação esse homem desenvolveu para si mesmo, para sustentar-se como gente e tomar por base para sua militância social pelo bem comum? Que respostas foi capaz de dar à menina-moça agora capaz de compreender os papéis sociais, descobrir-se como mulher, lidar com sua sexualidade e já consciente da monstruosidade de que era vítima constante? 

Nem precisamos referir aqui a repetição da monstruosidade com uma prima da sua filha, e mesmo com o seu filho menor. Só aumenta a nossa perplexidade.

E ainda, que mãe é essa? Todos sabemos do poder do amor de uma mãe, da capacidade de privar-se por seus filhos, de protege-los sob situações extremas. O que essa mãe considerou ao optar por ignorar o abuso e proteger o marido agressor? Segurança econômica? Amor ao marido? Estabilidade do casamento? O que essa mãe conversava com sua filha criança? O que dizia à sua filha adolescente? Como funcionava sua cabeça ao saber exatamente o que estava acontecendo?

Adevogados! Adevogados, com “d-e” mesmo. Os desse tipo são cínicos criativos. A tese da “defesa” do pai agressor, trazida à lume por seu “adevogado”, é a de que trata-se de uma artimanha da filha para extorquir dinheiro do pai. Rapaz, das duas uma: ou essa menina é uma monstra (de inventar tal loucura para incriminar pai e mãe por causa de dinheiro) ou esses “adevogados” – pai inclusive – extrapolaram todos os limites do absurdo! É o que parece, pois a hipótese que levantaram é inacreditável!  Se, por mais absurdo que seja, for confirmada, pelo menos haveria uma lógica por trás: dinheiro. Tal coisa ainda seria menos indigna. O ser humano sempre cometeu absurdos por essa causa.

Não, não é crível. Espero que não se confirme. Quem ouviu o depoimento da jovem só pode entender que essa tese vem para aviltar ainda mais o que restou de sua dignidade. E se o pai, depois de tudo, ainda tem a coragem de levantar um argumento desses, então está apenas comprovando sua cretinice incurável. É mesmo um monstro.

Que se apure. Não será difícil. A verdade aparecerá completa.  Mas nada, nada que possa ser feito ou dito será capaz de explicar tamanha barbaridade num mundo tido como civilizado. O ser humano é mesmo um desconhecido.  A doutrina cristã da Queda é a única pista para uma tentativa de entendimento dessa tragédia. 

Ninguém é insubstituível?


Recebi um texto por e-mail enviado por meu irmão, Moacir Santos, indigenista, que mora em Recife-PE.  O texto, que não trazia a indicação do autor, tratava de uma reunião de avaliação de resultados de uma grande empresa, momento em que o CEO, diante dos indicadores em queda, ameaçava veladamente sua equipe com a famosa frase “Ninguém é insubstituível”.  Um dos gestores presentes levantou timidamente a mão e fez um belo discurso sobre a “insubstituibilidade” das pessoas, citando Beethoven,  Tom Jobim,  Ayrton Senna, Ghandi, Frank Sinatra, Garrincha, Santos Dumont, Monteiro Lobato & Cia Ltda. Para fechar instou o seu CEO a focar no brilho em vez de nas fragilidades de sua equipe.

Respondi assim:

É isso, meu caro, cada pessoa é única, claro.

Acontece que nossas fraquezas, falhas, erros de caráter, sempre estão presentes. É preciso considerá-los, tentar reduzi-los, mantê-los sob controle. Sem pressão, ficamos parados, não nos movemos.  Sem controle tendemos a tiranizar os outros em nosso favor. 

Tem gente que precisa mesmo ser substituída numa equipe. Não coopera, não responde aos princípios, não soma pra o resultado. Talvez esteja na equipe errada. O erro do tal CEO nervoso do exemplo foi usar de uma ameaça velada como forma covarde de pressão. 

Acredito que podemos pensar nas pessoas como peças, sim, não são exatamente "peças", como as mecânicas: rígidas, imutáveis, projetadas e construídas de uma vez para desempenhar uma única função de forma perfeita e que, quando desgastadas pelo uso, devem ser descartadas e substituídas por uma novinha em folha (um amortecedor automotivo, por exemplo).  As pessoas são como peças, sim, mas de um outro gênero, "construídas" ao longo da vida, a partir de características inatas e de outras agregadas da cultura e da sociedade. São tipos de peças não rígidas, não fixas, não pré-moldadas de forma definitiva. São intercambiáveis, não descartáveis. São agentes de interação e só são úteis em equipes. Ninguém vale nada sozinho.  

Se uma equipe tem peças não alinhadas com os seus propósitos é razoável que possam vir a ser substituídas por outras melhor alinhadas. As retiradas devem ser destinadas a outras equipes com as quais seus propósitos melhor se alinhem.  E assim o mundo segue, pois há lugar para todos - inclusive na cadeia (deveria haver, nesse caso, especialmente para ricos).

Complicado, não? É que esse tipo de texto pode nos induzir a atitudes um tanto quanto condescendentes (pra não dizer piegas). Aos gênios (Beethoven & Cia) perdoamos todas as falhas, inclusive lhes damos os direitos de até desrespeitar a humanidade dos demais mortais).  É que a luz deles ofusca seus pecados. Vide Steve Jobs. E por aí vai.

No fim, como meu velho pai dizia: "A cera humana..."

E você, o que acha?