Seu Lobo

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domingo, 24 de junho de 2012

Crack: longe demais?





Ouvi dizer que há uma corrente dentre os traficantes que quer combater a venda do crack. Sim, traficantes também têm correntes, facções, linhas de ação, estratégias.  Eles pensam, sabia? Planejam. E por que uma dessas correntes quer combater o crack?  Simples: questão de economia, relação custo x benefício. O crack revelou-se uma droga tão pesada, tão viciante, que ultrapassou os parâmetros da viabilidade econômica do tráfico. É uma droga muito barata e tem que ser vendida em volume para dar lucro. Precisa de uma rede de distribuição muito capilarizada, fragilizando o controle dos chefes e aumentando o risco de apreensão e prisão. Além do mais, destrói seus dependentes, destrói as famílias, atinge mais a sociedade, aparece mais na mídia, cria um clima de comoção social, provoca mais a reação dos órgãos de segurança, chama mais a atenção. Os viciados em crack acabam sem dinheiro e roubam celulares e objetos para trocar pela pedra. Isso trás mais problemas pois os traficantes precisam vender esses objetos e ficam mais expostos. São milhares de celulares, computadores, máquinas fotográficas e outros eletrônicos (moeda preferida quando não há dinheiro) que precisam ser trocados por dinheiro. Não é uma boa liquidez.  Ainda mais, não tem ciclo de consumo duradouro, visto que os dependentes acabam na rua praticando delitos para sustentar o vício e terminam  ou morrendo, ou presos ou internados, ou – poucos –  recuperados. Há uma forte reação social contra o crack e cada vez mais os lucros dos traficantes estão ameaçados.

No início o crack surgiu como a droga-ouro, por seu alto poder escravizante. Deveria servir como porta pra a cocaína mas não cumpriu esse papel. Com o tempo, mostrou também o seu poder destruidor. Por ser barata é mais acessível às classes menos favorecidas.  A cocaína, mais cara, fica pessoas de maior poder aquisitivo, desde que não experimentem o crack.   Cocaína é mais rentável para os traficantes,  vicia mais devagar que o crack, é uma droga “cult”, “chique”,  fornece a ilusão de poder ser usada “socialmente”, ao contrário do crack. Viciados em crack só querem o crack. Viciados em cocaína que experimentam o crack largam a cocaína pelo crack. Conclusão dos traficantes: vamos combater o crack pois ele  poderá acabar com o nosso “negócio” a longo prazo.  Escrevo esse raciocínio pois vi algo assim numa reportagem de TV. Não sei até que ponto é verdadeiro. Mas faz algum sentido. Será que vamos ter que torcer para que os traficantes sejam mais efetivos no combate ao crack do que nossas autoridades?  A que ponto chegamos! 

Um comentário:

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