Ouvi dizer que há uma corrente dentre os traficantes que
quer combater a venda do crack. Sim, traficantes também têm correntes, facções,
linhas de ação, estratégias. Eles
pensam, sabia? Planejam. E por que uma dessas correntes quer combater o crack? Simples: questão de economia, relação custo x
benefício. O crack revelou-se uma droga tão pesada, tão viciante, que
ultrapassou os parâmetros da viabilidade econômica do tráfico. É uma droga
muito barata e tem que ser vendida em volume para dar lucro. Precisa de uma
rede de distribuição muito capilarizada, fragilizando o controle dos chefes e
aumentando o risco de apreensão e prisão. Além do mais, destrói seus
dependentes, destrói as famílias, atinge mais a sociedade, aparece mais na
mídia, cria um clima de comoção social, provoca mais a reação dos órgãos de
segurança, chama mais a atenção. Os viciados em crack acabam sem dinheiro e
roubam celulares e objetos para trocar pela pedra. Isso trás mais problemas
pois os traficantes precisam vender esses objetos e ficam mais expostos. São
milhares de celulares, computadores, máquinas fotográficas e outros eletrônicos
(moeda preferida quando não há dinheiro) que precisam ser trocados por
dinheiro. Não é uma boa liquidez. Ainda
mais, não tem ciclo de consumo duradouro, visto que os dependentes acabam na rua
praticando delitos para sustentar o vício e terminam ou morrendo, ou presos ou internados, ou –
poucos – recuperados. Há uma forte
reação social contra o crack e cada vez mais os lucros dos traficantes estão
ameaçados.
No início o crack surgiu como a droga-ouro, por seu alto
poder escravizante. Deveria servir como porta pra a cocaína mas não cumpriu
esse papel. Com o tempo, mostrou também o seu poder destruidor. Por ser barata é
mais acessível às classes menos favorecidas. A cocaína, mais cara, fica pessoas de maior
poder aquisitivo, desde que não experimentem o crack. Cocaína é mais rentável para os traficantes, vicia mais devagar que o crack, é uma droga “cult”,
“chique”, fornece a ilusão de poder ser
usada “socialmente”, ao contrário do crack. Viciados em crack só querem o
crack. Viciados em cocaína que experimentam o crack largam a cocaína pelo crack.
Conclusão dos traficantes: vamos combater o crack pois ele poderá acabar com o nosso “negócio” a longo
prazo. Escrevo esse raciocínio pois vi
algo assim numa reportagem de TV. Não sei até que ponto é verdadeiro. Mas faz
algum sentido. Será que vamos ter que torcer para que os traficantes sejam mais
efetivos no combate ao crack do que nossas autoridades? A que ponto chegamos!
Alguém precisa se posicionar. rsrsrsrs
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