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quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Qualidade na escola pública. O que queremos?




Qualidade é hoje a palavra da moda no mundo empresarial. Foi o engenheiro americano William Deming que a pôs em evidência na indústria japonesa no pós-guerra. O núcleo desse conceito subverte o paradigma anterior: a melhoria da qualidade resulta na redução das despesas e no aumento da produtividade. Antes a indústria tinha que aumentar a produção de bens de consumo. Qualidade não era tão importante e representava um custo a mais. Deming contrariou essa lógica e revolucionou os princípios da nova gestão industrial. Como consequência desse novo valor na gestão a importância do planejamento ficou ainda mais evidente.   Gerenciar sem olhar para o futuro é perda de tempo, recursos e gera atraso.

Que boas lições para o setor público. Especialmente para os ministérios de base, como educação, saúde e segurança pública.  

Deming elaborou os seus famosos 14 pontos para a gestão da qualidade total (veja em http://pt.wikipedia.org/wiki/W._Edwards_Deming).   Há controvérsias em torno deles, claro. Mas tem coisas interessantes. Por exemplo: 1-Criar constância de propósito de aperfeiçoamento de produto e serviço. 4-Acabar com a ideia de negócio compensador baseado no preço. E 10-Eliminar slogans, exortações e metas numéricas dirigidas aos empregados.  Se pelo menos esses três princípios fossem aplicados à educação, por exemplo, teríamos uma pequena revolução  iniciadora de uma grande mudança.

Como assim? O item 1-constância de propósitos de aperfeiçoamento até dá pra entender:  focar na melhoria e não apenas na produção. Produzir mais, sim, mas também produzir melhor. Produzir mais do melhor. O que aconteceu no MEC com sua política de universalização do ensino? Produzir mais do ruim, ou seja, mais educação ruim para mais gente; mais péssimas escolas para mais brasileiros.  A que isso nos leva?  Qual indústria sobreviveria enchendo o mercado de canetas que falham, tênis que rasgam-se ou de cadeiras que se quebram? Onde um país quer chegar multiplicando escolas que não ensinam para alunos que não aprendem?

Certo. Mas, e quanto ao ponto 4? Negócio compensador? Negócio no setor público? Sim, pois o setor público tem uma lógica dos negócios no que tange ao seu lado político. E o retorno, o lucro da política, chama-se voto. Quanto mais produtos vender, mais retorno terá. Quanto mais “obras” se fizer, mais votos em retorno. E com mais votos, mais tempo no poder. E o poder é o grande alvo dos políticos corruptos. Então, você anda pelo interior dos estados nesse brasilzão e cansa de ver Escola Fernanda Sarney, Escola Municipal Mário Covas, Centro Educacional Antônio Carlos Magalhães, Grupo Escolas Nome-de-político-qualquer e por aí vai. Quantidade dá voto. Fachada dá voto.

E o ponto 10: eliminar slogans e metas numéricas. Aí a coisa pega. Cada governo que entra adota uma logomarca diferente da oficial e cria um slogan. Assim driblam a lei que proíbe a personalização da função pública. Basta olhar a logomarca que o eleitor já sabe quem é o governador. Botar a logomarca em obras públicas então, perpetua a espécie. E tome números. Números, números e números. É o que importa. Metas numéricas. Quem vê as estatísticas de vagas na escola pública brasileira fica impressionado.  Mas todos sabemos que a maioria das escolas públicas do ensino básico no Brasil encontram-se em estado deplorável.

É hora de rever essa política. Hora de investir mais em Educação com E maiúsculo, centrada no aumento da qualidade do ensino. Os resultados vão demorar 15, 20 anos para aparecerem. Mas já se passaram 26 anos do regime militar e nada de resultados. Chegamos ao caos. Continuar com essa política é suicídio. Ou preservação do status-quo. Será isso que eles querem mesmo? Tomara que não.

3 comentários:

  1. Os políticos enquanto cidadãos, são verdadeiros cabo eleitorais de si mesmos!!

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  2. A concepção de qualidade total de Deming é centrada no cliente: produzir com qualidade significa conferir maior eficiência ao processo para produzir com menos custo o produto que o cliente deseja, a um preço que ele possa pagar. Assim, por exemplo, existe a caneta Mont Blanc autêntica e a "genérica", a camisa Lacoste que vc compra na 25 de março uma dúzia ao preço de uma. Na educação esse fenômeno se repete: a qualidade é demandada pelo cliente de acordo com seu poder de compra. O discurso dos políticos de que o desenvolvimento do país depende da educação do povo tem que ser analisado à luz do contexto histórico: de que educação falam? Estudos do Banco Mundial, principal intelectual orgânico das classes dominantes e indutor das políticas educacionais para os países do terceiro mundo, apontavam a efetividade do investimento em ensino fundamental nesses países, principalmente para as mulheres, que assim poderiam cuidar melhor de suas crianças, evitando maiores dispêndios em saúde pública, por exemplo. Essa aparente disfunção do sistema que produz esses resultados a que vc se refere é na verdade funcional ao sistema maior: para permanecer como celeiro de mão-de-obra barata na divisão internacional do trabalho, nosso país não precisa de educação de boa qualidade para todos.Os conteúdos ideológicos necessários para inserir a maioria do povo no sistema social numa posição subalterna (reconhecendo que essa posição advém de seu próprio desempenho inferior)são muito bem transmitidos pelo sistema escolar existente.
    Miriam Sousa - Professora universitária

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  3. Professora Miriam, para variar, um show de lucidez. Eu me expresso mais para dar vazão à minha indignação do que como conhecedor do assunto. Já me dou por satisfeito por provocar sua resposta. Ela nos ensina. Valeu.

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