No que estaria pensando Straus-Kahn nos momentos em que, de repente, expulso das poltronas da primeira classe de sua vida agitada, parado e isolado em uma cela, à frente unicamente de si mesmo? Todas as mil coisas pra fazer, decisões de impactos em nações e povos, bilhões em recursos mundiais a gerenciar, de repente, ficaram para trás. Todo um futuro, ainda mais promissor, possivelmente a presidência da França! Tudo ruiu num minuto! E quando ocorreu esse maldito minuto? Quando sua mente, quase cega sob o efeito de uma compulsão antiga, qual raposinha alimentada e mantida sob controle, ataca. Outros ataques no passado foram suplantados no poder de sua reputação. O risco era muito baixo. Uma camareira, morena, de Guiné, pobre e simples! A raposinha tirou essa de letra! Mas, na cela, Kahn deve ter olhado feio: "Tá vendo, sua miserável!"
Carl Sagan diz em seu livro "Bilhões e bilhões" (Companhia de Bolso-2009) "Ninguém subestime o poder de uma exponencial". Parafraseando e aplicando ao caso, ninguém subestime o poder de uma compulsão. Elas também são exponenciais. De um tipo diferente, claro. Todo mundo tem a sua, pelo menos uma. É a sina da humanidade. O grito do apóstolo continua desconcertante. Não existe formação cultural, religiosa ou condição social ou racial capaz de matá-la. A raposinha está lá, escondida por entre as matas do emaranhado de informações e conhecimentos que adquirimos ao longo da vida. E ela vai atacar.