No que estaria pensando Straus-Kahn nos momentos em que, de repente, expulso das poltronas da primeira classe de sua vida agitada, parado e isolado em uma cela, à frente unicamente de si mesmo? Todas as mil coisas pra fazer, decisões de impactos em nações e povos, bilhões em recursos mundiais a gerenciar, de repente, ficaram para trás. Todo um futuro, ainda mais promissor, possivelmente a presidência da França! Tudo ruiu num minuto! E quando ocorreu esse maldito minuto? Quando sua mente, quase cega sob o efeito de uma compulsão antiga, qual raposinha alimentada e mantida sob controle, ataca. Outros ataques no passado foram suplantados no poder de sua reputação. O risco era muito baixo. Uma camareira, morena, de Guiné, pobre e simples! A raposinha tirou essa de letra! Mas, na cela, Kahn deve ter olhado feio: "Tá vendo, sua miserável!"
Carl Sagan diz em seu livro "Bilhões e bilhões" (Companhia de Bolso-2009) "Ninguém subestime o poder de uma exponencial". Parafraseando e aplicando ao caso, ninguém subestime o poder de uma compulsão. Elas também são exponenciais. De um tipo diferente, claro. Todo mundo tem a sua, pelo menos uma. É a sina da humanidade. O grito do apóstolo continua desconcertante. Não existe formação cultural, religiosa ou condição social ou racial capaz de matá-la. A raposinha está lá, escondida por entre as matas do emaranhado de informações e conhecimentos que adquirimos ao longo da vida. E ela vai atacar.
Nessa pegou pesado!
ResponderExcluirAs raposinhas estão lá em suas tocas no inconsciente, saindo de vez em quando para aprontar das suas. Como para lembrar-nos de quem de fato somos, ou em natureza do quê nos tornamos em nosso anseio luciferiano de conhecer o bem e o mal como Deus.
Talvez por isso o apóstolo fala de um "espinho na carne" do qual faz mistério e pelo qual pediu três vezes livramento a Deus, que apenas respondeu: "a minha Graça te basta".
E basta mesmo! A graça nos diz tudo. Diz que não somos conhecedores do bem e do mal, não podendo distinguir essas duas categorias por conta própria. Não sabemos distinguir lobos de cordeiros, pois a pele que os cobre pode apenas ser um disfarce. Não podemos distinguir joio e trigo antes que chegue o tempo da colheita.
as raposinhas estão lá para nos dizer que é a Graça mesmo que nos redime. Ela, a Graça, basta por sí só.
Podemos até ter a habilidade, força e criatividade de Sansão para caçar 300 raposas, amarra-las de par em par pela cauda com uma tocha acessa no meio, e soltá-las no campo para fazer uma grande queimada. Mas a raposinha muda de pele. Agora é uma linda filistéia, princesa entre princesas a nos seduzir. Ou uma simples camareira de hotel que na solitude de um ambiente asséptico e impessoal nos transporta para o obscuro jogo de poder entre desiguais catapultando o instinto animalesco e predador que habita nossas concupiscências.
Daí a Graça que nos basta também nos constrange se discernirmos cotidianamente que se somos justos é porque somos justificados, e só assim nos preparamos para "andarmos nas boas obras que Deus de antemão preparou para que andássemos nelas". Sem subterfúgios e com total dependência na Graça que nos basta.