Seu Lobo

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Ele tá vindoooo! Uhauuuu!

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Bilhões e bilhões - prazer roubado à juventude


Morrer aos 63 anos, em plena ação intelectual e bom vigor físico! 

Faz 15 anos!

Carl Sagan (1934-96) astrônomo, astrofísico, cosmologista, professor de astronomia e ciências espaciais, conferencista e autor. Publicou mais de 600 textos, entre papers científicos e artigos populares, e mais de 20 livros.  Nasceu nos arredores do Brooklin, em NY, filho de um alfaiate imigrante judeu russo. Na Grande Depressão seu pai teve que ser lanterninha de teatro para sustentar a família. 

Carl Sagan foi um dos maiores cientistas espaciais da história contemporânea. Pesquise no Google e fique fascinado com sua contribuição científica! Seu papel mais apreciado: falar de ciência e astronomia para o povo leigo, crianças, jovens e etc.

Sua última obra, Bilhões e bilhões, foi publicada postumamente por sua esposa e colaboradora Ann Druyan. Consiste da compilação de artigos inéditos.

O último capítulo, intitulado "No vale da sombra", ficou inconcluso:  "Há pessoas que sobrevivem anos com uma pequena porcentagem de células hospedeiras. Mas não terei uma certeza razoável, enquanto alguns anos não se passarem. Até então, só posso esperar". Falava das células de sua irmã compatível, no transplante de medula. Era outubro de 1996. Em dezembro, faleceria, vítima de mielodisplasia (síndrome originada na medula óssea que afeta o sangue), depois de dois anos de penoso tratamento.

Sempre me inquietou que pessoas sérias, que vivem com sólidos propósitos, descreiam de que haja um propósito maior na vida, na terra, no universo! Principalmente os cientistas!  Ao longo de sua luta pela vida Carl escreve: "Já encarei a morte seis vezes. E seis vezes ela desviou de mim". E continua, "Aprendi muito com essas confrontações".  Mas o que?  Ele responde: "Sobre a beleza e a doce pungência da vida, sobre a preciosidade dos amigos e da família e sobre o poder transformador do amor".  Eram duas da manhã quando cheguei nesse ponto. Meus olhos marejaram. Mas, ele segue, implacável: "Na verdade, quase morrer é uma experiência tão positiva e construtora, que a recomendaria a todos - não fosse, é claro, o elemento irredutível e essencial do risco".   Ah, não! Num-é-pussíver?  Que sublimidade ao enfrentar a própria morte quando não se tem esperança de que a vida continua?  Quase senti vergonha de minha fé!  Mas o cara não se contentou. Foi mais adiante:  "Gostaria de acreditar que, ao morrer, vou viver novamente, que a parte de mim que pensa, sente e recorda vai continuar. Mas por mais que eu deseje acreditar nisso... não sei nada que me sugira que essa afirmação não passa de wishful thinking (pensamento positivo)". 

Como qualquer um de nós, Carl Sagan não queria morrer.  Porém, diferentemente, não acreditava noutra vida. Talvez por isso sempre tinha propósitos e sonhos concretos. Queria viver mais.  Mas, pra que?  "Quero envelhecer junto com minha esposa Annie, a quem amo muito. Quero ver meus filhos mais moços crescerem e participar do desenvolvimento de seu caráter e intelecto. Quero conhecer os netos ainda não concebidos".

E se me perguntarem, e a você, no leito de morte, por que ainda viver?  Essa resposta genérica sobre mulher, família e filhos, talvez daríamos. Mas, e quanto ao trabalho?  "Há problemas científicos cujas soluções desejo testemunhar - como a exploração de muitos mundos em nosso sistema solar e a busca de vida em outros lugares".  E quanto ao mundo?  "Quero ver como vão se desenvolver tendências importantes na história humana, tanto promissoras quanto preocupantes, como: os perigos e as promessas de nossas tecnologias, a emancipação das mulheres, a crescente predominância política, econômica e tecnológica da China, o voo interestelar".

"Se houvesse vida após a morte" - segue Carl - "eu poderia, não importa quando morresse, satisfazer a maioria dessas profundas curiosidades e desejos. Mas, se a morte nada mais é do que um interminável sono sem sonhos, essa é uma esperança perdida."  Ôh, meu Deus, me custava imaginar que haveria desesperança sem desespero. Me pareciam tão incompatíveis! Mas aí está!  E, para matar de pau, conclui: "O mundo é tão refinado, com tanto amor e profundidade moral, que não há razão para nos enganarmos com histórias bonitas para as quais não há evidências". Por que?

Carl Sagan era um prisioneiro da ciência: "A ciência nos pede que não aceitemos nada com base na fé".  Mas não ficou refém dela: "Quando um cinismo exagerado ameaça nos engolfar" - fala como cientista - "é animador lembrar que a bondade está por toda parte".  Que eu saiba, ele foi o ateu mais reverenciado pelos religiosos na face da terra até agora. Participou ativamente do Forum Global dos Líderes Espirituais e Parlamentares em Oxford (1988) e Moscou (1990), junto com as autoridades religiosas mundiais mais representativas.  Atuou como elo de união entre a ciência e a religião pelo compromisso com a sustentabilidade do planeta.

No seu leito de dor, orações, preces, rezas, mantras e outros clamores ecoaram a seu favor pelo mundo afora. Ele refere sua profunda gratidão pelas orações a seu favor. "Embora eu não ache que, se há um deus, o seu plano para mim será alterado por orações, sou mais grato do que posso dizer com palavras àqueles - inclusive tantos que jamais conheci - que torceram por mim durante a minha enfermidade".

Por que os religiosos reverenciaram com tanta fé a um ateu? 

Mesmo sem fé, ele respeitou os que a têem! Uniu-se a eles por uma causa comum, ainda que com divergências práticas, como no caso do aborto. Carl Sagan amou, e foi amado!

Impossível negar: o cara era muito feliz sem fé. Bom pra ele.  Há muitos "ateus" cínicos por aí. Encontrar um com esse amor pela vida e respeito pelo universo é surpreendente. 

Oro por ele, Deus que me perdoe - protestantes não rezam por mortos. Inspira-me de ter na minha fé a mesma força, entusiasmo e amor que ele exerceu na sua não fé.

Sim, mas, o que tem a ver o título desse post?

Bem, enquanto Seu Lobo não vem, nossos jovens estão assistindo BBB, Zorra Total, Faustão...
Não sabem mais o que é o prazer de uma boa leitura - que não seja o estudo por obrigação do imperativo de buscar seu próprio lugar ao sol.

3 comentários:

  1. Lendo esse post minha mente viajou ao texto do Eclesiastes: "Tudo que te vier à mão para fazer, faze-o. Pois no além para onde vais não há planos, nem projetos..."
    Esse texto me veio à mente várias vezes durante esta semana, e sempre junto com outro no qual os saduceus, seita religiosa judáica que não cria em espíritos nem ressurreição, provocava Jesus a respeito de quem na eternidade afinal seria o marido de uma tal mulher que casara e enviuvara sete vezes. Jesus respondeu à provocação dizendo: "Errais não conhecendo as escrituras, pois seremos como os anjos de Deus que não se casam nem se dão em casamento".
    Pareceu-me, a princípio, nada ter a ver um texto com outro... Mas a questão existencial posta no Eclesiates tem resposta na fala de Jesus, e me diz o quanto Carl Sagan sabia de Deus, mesmo sem fé declarada, muito mais do que muitos que se declaram cristãos.
    A vida, a existência, como a conhecemos, é única. Jamais anjos, nem mesmo Lúcifer em sua soberba experimentou a existência que Deus nos presenteou. Essa experiência de vida que temos, nossos atos, decisões, trabalho, estudo, família, amigos, etc, é um privilégio, uma dádiva, um presente... desses de causar inveja na esferas celestes.
    Não tenho nenhum pudor teológico em pedir: SENHOR tenha misericórdia de Carl Sagan. Abrace-o na eternidade,

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  2. Também fiquei tocada com o testemunho do astronomo Sagan.Lembrei-me de uma afirmaçao do Rev. Faustino em um dos seus memoráeis sermoes,quandoeu ainda era criança, de que o racionalismo moderno golpeou a fé. O filósofo iluminista Kant afirmou em sua Crítica da Razao Pura que Deus era incognoscível à razao humana. Sim, até a matemática mostra que o maior nao pode ser contido pelo menor. O que nos surpreende é que Sagan tivesse encontrado paz em seu naturalismo (para nao dizer materialismo). Sua religiao era a vida e talvez reverenciando-a ele tenha feito exatamente o que deseja o Doador da Vida. Se os homens respeitassem a vida seríamos todos mais felizes...Bem, tinha escrito mais coisas, mas apaguei sem querer e agora nao me lembro mais. Concordando com vc, Moacir, lembro o belo poema de Gonzaguinha:
    E a vida!
    E a vida o que é?
    Diga lá, meu irmão
    Ela é a batida
    De um coração
    Ela é uma doce ilusão
    Hê! Hô!...

    E a vida
    Ela é maravilha
    Ou é sofrimento?
    Ela é alegria
    Ou lamento?
    O que é? O que é?
    Meu irmão...

    Há quem fale
    Que a vida da gente
    É um nada no mundo
    É uma gota, é um tempo
    Que nem dá um segundo...

    Há quem fale
    Que é um divino
    Mistério profundo
    É o sopro do criador
    Numa atitude repleta de amor...

    Você diz que é luxo e prazer
    Ele diz que a vida é viver
    Ela diz que melhor é morrer
    Pois amada não é
    E o verbo é sofrer...

    Eu só sei que confio na moça
    E na moça eu ponho a força da fé
    Somos nós que fazemos a vida
    Como der, ou puder, ou quiser...

    Sempre desejada
    Por mais que esteja errada
    Ninguém quer a morte
    Só saúde e sorte...

    E a pergunta roda
    E a cabeça agita
    Eu fico com a pureza
    Da resposta das crianças
    É a vida, é bonita
    E é bonita...

    P.S. Estou postando a partir do e-mail de Joaquim Filho. Depois corrigirei isso...
    Miriam.

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  3. E Kant não estava completamente ou mesmo mínimamente errado em seu raciocínio...
    As Escrituras seriam apenas letra morta sem a ação do Espírito que a vivifica, pois a lógica humana não é capaz de apreender a lógica Divina, o Cristo crucificado antes mesmo da fundação do mundo.
    Sem o Espírito, ninguém seria capaz de confessar que Cristo, o Deus encarnado, morto e ressurreto é o SENHOR. Este princípio de fé está amplamente difundido no ensino do evangelhos e dos apóstolos.
    No mais, teremos muitas e muitas supresas quando a trombeta soar e ecoar a voz do arcanjo.
    Voce? Aqui? Mas... mas, glupt!

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