Uma vez eu e minha irmã, Prof. Miriam Sousa, fomos falar com o Dr. Carlos Sebastião Silva Nina, ex-presidente da OAB-MA (1986/89), acerca das humilhações a que são submetidos familiares de detentos nas visitas. Ele deu uma resposta dura, jamais esquecida: "Vocês só estão preocupados com esse problema por que o estão vivendo na própria pele". Era verdade! Era verdade então e continua sendo agora, pra nós e pra quase todo mundo. Quem se preocupa com os cadeirantes? Quem pelos drogados? Pelas mães coitadas com filhos no colo nas filas dos SUS da vida? Pelas crianças aidéticas órfãs? Pelas crianças nos corredores dos hospitais de câncer? Pelas de rua? Por aquelas com necessidades especiais?
Fora raras e esporádicas exceções, quem? Resposta: os próprios familiares! Ou, ainda mais propriamente, as mães! Elas, em último caso, vão até a última e, em seguida, depois da última milha.
Temos nossa própria vida pra cuidar. E não é pouco. Os desafios do mundo moderno são enormes. Assegurar nosso lugar ao sol, nossa própria sobrevivência com dignidade, nossa saúde, a provisão para os nossos filhos! Eu sou assim. Você é assim. Somos todos assim! Aqui e ali aparece um que fura esse padrão, um que sai do seu nicho, que fura a bolha, sai das quatro paredes que cercam seus interesses e os de seu grupo familiar pelo qual seja diretamente responsável.
Pagamos nossos impostos - e não são poucos! Uma boa parte de nós trabalha duro e mal consegue superar a base da pirâmide de Maslow. A maioria apenas sobrevive nessa base. A vida moderna organizou-se de tal forma que exige uma estrutura cada vez maior e mais dispendiosa para garantir a dignidade e o bem estar pessoal e da família. E ainda sofremos diuturnamente a pressão para consumir. "Compre, compre, compre, compre agora, não deixe para amanhã, é só hoje, tá acabando, aproveite, estoque limitado". Nem nos apercebemos que amanhã, depois de amanhã, depois de depois de amanhã, a mensagem é a mesma! (Bom, mas isso é assunto para outro post).
Tá certo, tá certo... é difícil! Mas, como diria eu (pois gosto de dizer sempre isso), "é difícil é um préido arto". Sair das quatro paredes é um desafio. Fazer isso de vez em quando, já é alguma coisa. Fazer disso uma missão, bem, é para poucos.
Por que estou escrevendo isso agora? Porque ontem à tarde recebi uma ligação da Escola de Cegos do Maranhão (ECEMA), pedindo ajuda para comprar duas bengalas. Queriam mandar um motoqueiro aqui pegar o dinheiro, com o recibo. "Absolutamente não, não vou fazer isso, tá doida?" - respondi. "Vou passar aí amanhã de manhã e ver a situação pessoalmente". Eu não iria entregar dinheiro assim para um motoqueiro com base num telefonema, claro. Depois fiquei pensando "Seria mais simples do que ir lá, pois assim corro o risco de me envolver, de me comprometer". Nesse momento Dr. Carlos Nina abriu sem bater a porta do meu escritório mental. Fela-da-mãe! Pensei que ele tinha sumido, depois de 25 anos!
Tou indo agora na ECEMA.
Fui!
Eita... essa história de milha e última milha é um dedo na nossa cara.
ResponderExcluirA cerca de uns cinco anos passados, conheci um garoto de 14 anos que sofria de um câncer de estômago.
ResponderExcluirNão era uma pessoa da minha relação. Apenas um vizinho de uma amiga a quem dava carona para o trabalho.
Passei a levá-lo com certa frequência ao hospital, junto com o pai que o acompanhava, para fazer quimioterapia. Era comovente a situação, pois os dois, pai e filho, seguiam uma rotina semanal de ir o ponto de ônibus para irem ao hospital.
durante uns seis meses os transportei, sem quase nada falar, apenas disponibilizando um tiquinho do meio tempo e um pouquinho de paciência com o jevenzinho que andava já com dificuldade, de tão alquebrado que estava.
Ao fim, ele faleceu. Soube por acaso quando ia visitar minha amiga sua vizinha. Encontrei o ambiente quieto naquela ruazinha apertada do suburbio que só passava um carro de cada vez.
Encontrei o pai no meio da rua e ofereci meu velho carro para transportar familiares e amigos ao velório e enterro.
Ele me agradeceu, e disse que não seria necessário pois tinha conseguido um ônibus com um vereador da comunidade.
Despedi-me, e sai matutando... pôxa, porque não vou lá no Hospital Oswaldo Cruz oferecer-me como voluntário para transportar outras pessoas nessa mesma situação?
O hospital é referência para as pessoas humildes da Grande Recife e interior que para lá se deslocam para esse tipo de tratamento.
Fica lá pertinho do lugar onde trabalho.
Ontem mesmo vi chegar um ônibus, desses de prefeitura de interior, todo lascado e empoeirado, cheio de gente humilde para tratamento. É assim todo dia.
Fiz planos! Vou lá semana que vem, assim e assado...
Os planos viraram o que eram: planos.
Vejo agora esse texto. E agora?
Quando esse tipo de pensamento começa a passar pela nossa cabeça, logo nosso incosnciente articula um mecanismo de defesa: nao podemos arcar com todoo sofrimento do mundo... e fazemos como aquele adolescente que quando sentia vonade de fazer alguma coisa se deitava e ficava esperando a vontade passar...
ResponderExcluirHá uns 5 anos, desde que fui acometida de cancer e passei por um longo epenoso tratamento, contribuo mensalmente para o Hospital Aldenora Belo e para a Escola de Cegos. Recebo telefonemas carinhosos das funcionárias das duas instituiçoes e já recebi convites para visitas, mas nunca fui. É mais comodo dar a contribuiçao e tranquilizar a consciencia...Houve tempo, quando éramos jovens, que tínhamos interesse em participar de trbalhos comunitários. Jovens com Uma Missao, lembra, Moacir? Hoje, os jovens perderam os ideais. E os adultos? nem se fala...
Miriam
É SEU LOBO, PIMENTA NOS OLHOS DOS OUTROS É REFRESCO!
ResponderExcluirA próposito de "piperis asinus in aliis est
ResponderExcluirrefrigerium in populi", me remete de imediato à parábola do bom samaritano, que de pronto se envolveu com a dor do outro sem calcular as consequência do que esse envolvimento poderia gerar contra si ou a favor de si.
Ao contrários dos outros personagens da história, ele não calculou os riscos e as vantagens desse envolvimento: simplesmente fez. E fez na simplicidade do que lhe estava à mão para fazer, com os recursos que dispunha e generosamento se dispôs a empregar.
O mesmo que fez a mulher que derramou valioso perfume sobre os pés de Jesus, enxugando-o em seguida com seus cabelos.
Judas, mal intecionado, comentou que melhor seria, mais nobre seria, vender o perfume e dar o dinheiro aos pobres. Ao que Jesus de pronto respondeu: "ô meu, tome tento...sei o que se passa na sua mente calculista, mano. Os pobres sempre estarão aí com voces, é só olhar em volta e não faltará oportunidade para fazer o bem. O que importa é como voce faz, é o que está o seu coração, sacô?".
Assim, queridos, não carrego uma santa frustração pelo bem que não fiz, pois esse certamente seria um bem para fora e não para dentro, além do que tais frustrações acumuladas só gerariam em mim mais e mais neurose.
O bem, sempre poderei fazê-lo. Não faltam oportunidades, especialmente se estiver consciente no Espírito, e aberto às possibilidades que Deus preparou de antemão.
No mais, o jovem hoje é adulto, mas a missão é a mesma: amar.