Seu Lobo

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Ele tá vindoooo! Uhauuuu!

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Esperança x Medo: apostem suas fichas.



Estamos perdidos. Perdemos a guerra. A guerra contra as drogas, contra a violência, contra a corrupção. E parece que estamos perdendo a última guerra, a da esperança.  Quando o projeto político do presidente “nunca antes” venceu, há 9 anos, um trovão ressoou de norte a sul: “A esperança venceu o medo”! 53 milhões de votos juntaram-se num grito de liberação de uma esperança incomensurável. Enfim a oposição ideológica chegava ao poder, apenas 20 anos após a ditadura. O discurso de posse do presidente eleito foi uma peça brilhante! O povo celebrava nas ruas, reportagens nas TVs do mundo inteiro mostravam a façanha da ascensão do operário sindicalista de esquerda. O prato, o queijo, a faca na mão e a vontade de cortar. Não faltava nada!

Faltava!  O sapo barbado de esquerda virou o príncipe da grande mídia. Na sedução do poder o discurso de posse foi deixado de lado. Em seu lugar entrou o projeto de manutenção do poder. Em vez de usar a força popular que o elegeu como respaldo para pressionar o Congresso a aprovar as reformas necessárias, o príncipe midiático preferiu alianças com o que há de mais execrável na política brasileira. Dirceu,  o estrategista do Araguaia, entra em cena e idealiza a bolsa “minha família política no Congresso”, apelidada de mensalão – pode acreditar: pagamentos mensais para que deputados votassem a favor do governo!  Companheiros em massa são chamados para os cargos “de confiança” em todos os escalões, muitos deles incompetentes, corruptos e aloprados.

Houve avanços? Claro que sim. Muitos. Mas a um preço tão grande que chega a anular o efeito deles. Porque avanço tem que se dar no campo político. Não adianta avançar em projetos sem apoio político autêntico. E autenticidade não se compra, se obtém no campo da ética. E, nesse campo, fracasso total.

Em 2010, findo o primeiro ciclo duplo do projeto tido originalmente como popular, o povo, sem alternativa, teve que optar pelo menos pior, a continuidade, ainda em busca da esperança quase perdida. Pela primeira vez uma aliança de esquerda conta hoje com folgada maioria nas duas casas do Congresso. Mas uma maioria sem força moral, frágil, volúvel, construída na barganha.  O novo governo continua a andar de lado, patinando na ética, perdido na articulação política (expressão culta para a velha prática do toma-lá-dá-cá) mas, agora, sem nem a sombra do apoio popular do início.

Conversando com um pequeno empresário essa semana ele me disse: “Amigo, perca suas esperanças. A coisa tá tão podre que não há a menor possibilidade de mudança agora. Vamos ter que morrer, nossa geração, a próxima, a seguinte, e aí, talvez, da 4ª geração pra frente, possa haver esperança de novo”.  Fiquei estupefato!  Será?  Minha esperança ficou por um fio. Alguém aí me lança uma boia!

Caos e cinismo



Essa semana estava vendo na TV o noticiário. Rapaz de 18, ex-menor com passagem nas febems renomeadas da vida, sem carteira de motorista, rouba carro, atropela e mata casal em calçada em SP. Homem morre dentro de ambulância depois de perambular por hospitais sem vagas de uti no Rio. Aluna adolescente esfaqueia e mata colega na sala de aula no Ceará. O noticiário segue com casos de pedofilia, prostituição infantil, redes de turismo sexual, gravidez na adolescência, abandono de bebês, crimes agrários, trafico de drogas, contrabando de armas, etc. Depois entra uma reportagem onde aparece o ex-presidente Lula com o seu indefectível bordão “Nunca antes na história desse país...”, enquanto a “presidenta” lista as conquistas de seu governo.  Nada de mais. Tem sido assim todos os dias. Variações sobre os mesmos temas: caos e cinismo.

Saúde, educação, segurança, para aonde a gente se vira é o caos. É inacreditável que um país do tamanho do Brasil e com tanta riqueza chegue a esse ponto.  O discurso político é uma pérola de cinismo, a propaganda partidária irritante. Os que estão no poder mostram um país das maravilhas que só eles enxergam. Os opositores mostram as mazelas e dão prontamente a fórmula da solução. Não há opção de mudança. Tá tudo cinza. O idealismo fenece diante da dura realidade. A lista dos políticos disponíveis parece uma piada. Algumas das nossas maiores lideranças políticas são simplesmente bandidos e criminosos. O que restava de sério – o judiciário – está se mostrando podre. Nos Estados os desembargadores – que antes representavam supostamente uma reserva ética – hoje, com exceções cada vez mais raras, são flagrados em nepotismo cruzado, vendas de sentenças, fraudes de concursos, engavetamento de processos, defesa dos poderosos. Avacalhou geral. O Ministério Público e o CNJ lutam quase em vão para restabelecer uma ordem mínima. Até o STF derrapa, soterrando a ética debaixo de centenas de páginas de erudição jurídica.

Que fazer? Sinceramente, nem sei mais o que dizer. Alguém aí sabe?

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Ocasião adequada para o erro!




Ainda sobre a polêmica do livro do MEC “Por Uma Vida Melhor”, que libera as pessoas da angústia de querer falar sempre certo em todas as ocasiões.  Trato aqui da reação de alguns acadêmicos especialistas (com ironia) que saíram em defesa do MEC e do Ministro Fernando Haddad.

Advinha qual o argumento? Dou um Sonho de Valsa!
Preconceito! Isso mesmo, esse é o argumento! Tudo agora é preconceito nesse país. “Nunca antes na história desse país... etc., etc...”. 

Transcrevo aqui a crítica de um dos especialistas (e aqui, por favor, sem ironias), obtida da lista de discussão do HISTEDBR, da Unicamp (http://www.histedbr.fae.unicamp.br/)
A crítica é uma resposta ao vídeo do jornalista e poeta Álvaro de Farias. No vídeo o poeta faz uma crítica fraca, rasa, sem muita consistência, indignada e um tanto agressiva, centrada apenas na demonização do Ministro, como se ele fosse pessoalmente o idealizador do livro e o patrocinador da iniciativa. Se quiser, veja o vídeo em: http://mais.uol.com.br/view/85r7d735pwrw/poeta-brasil--ministro-da-educao-que-ensina-ignorncia-04028C1C3664D4A91326?types=A.   Mas, vamos em frente.

O post da especialista responde:

“Colegas!
Discordo do que foi falado pelo "poeta"(quem é ele? é professor? é educador?) em vários pontos. Porém, o que achei mais grave é a informação errônea apresentada: os livros não foram distribuídos para escolas de ensino fundamental e médio. O livro em questão (Por uma vida melhor) está na lista para escolha dos livros didáticos da Educação de Jovens e Adultos.

Quem conhece as ideias de Freire sabe que para esta etapa de ensino é essencial a problematização da realidade do educando!

Em anexo encaminho, para os interessados, a cópia da página polêmica do livro. Notem que após a problematização são elencadas as normas da língua padrão (fato que nenhum dos "críticos" observou em seus calorosos discursos).

Para quem tiver maior interesse no assunto, abaixo o link para uma notícia com a explicação do ministro Haddad:

http://www.pedagogia.seed.pr.gov.br/modules/noticias/article.php?storyid=388


Paro aqui, depois continuo.

É curioso: para argumentar contra um suposto preconceito a especialista inicia com um!  Vamos lá:

1-Poeta? Que poeta? Fala sério! Onde ele fez pós-graduação em Poetagem? É professor? É educador? Quem é ele para emitir opinião num assunto tão especializado? Que absurdo? Ele conhece Paulo Freire? Só quem conhece as ideias de Paulo Freire (nós, os especialistas!) pode entender que se trata do “método da problematização”.

Ah, tá! Método da Problematização! Claro, seu jumento! O que tu intende disso, cavalo?

2-Mas, o que a postante achou mais grave?  “Não, o livro não é destinado ao ensino fundamental nem ao médio não. É para a EJA”. Puxa, mas que erro grave! Não é grave não: é gravíssimo! Poeta, presta atenção no selviço, rapá! As nossas crianças e jovens matriculados regularmente no ensino fundamental e no médio estão salvas! Quanto aos jovens e adultos, que perderam o bonde da escola, ah, esses contam com o Método da Problematização!

3-Agora vamos ter uma aulinha sobre o Método da Problematização com o Ministro Haddad, no link fornecido no post:

· “Os livros didáticos são avaliados por 192 comissões de especialistas de 10 universidades federais, sem qualquer viés político e nenhuma interferência do Ministério da Educação” – Bem, se é assim, pelo menos nesse caso tamo perdido, e Haddad tá salvo! Por que, adispois de passá por 192 comissões de especialistas de 10 universidades, ainda saiu assim, o que podemu dizê, nois coitado que num intendemu nadica de nada de educação? E, claro, quem é o Ministro para passar por cima de tantos especialistas? Ele seria trucidado, não é mesmo? Tá tudo pobrematizado!

· Haddad continua: “A obra é dedicada à educação de jovens e adultos. A autora fala para pessoas que perderam o bonde do ciclo educacional e que muitas vezes apresentam dificuldades no domínio da língua culta. Ao contrário do que foi veiculado a obra parte de uma situação coloquial para levar o estudante até a norma culta”.  Não, não, Ministro, não é bem assim. Basta ler a página polêmica para constatar que é justamente o contrário: a obra parte da situação da língua culta para a coloquial e pretende validar o erro de fala como uma “variante adequada”.

4-Para nos ajudar, a especialista nos envia a página polêmica, onde, segundo afirma, depois da problematização, a língua culta é elencada. Vamos aos trechos da tal página polêmica. Depois de elencar as normas da língua culta, a autora problematiza:

Mas eu posso falar “os livro?”
Claro que pode. Mas fique atento porque, dependendo da situação, você corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico. Muita gente diz o que se deve e o que não se deve falar e escrever, tomando regras estabelecidas pela norma culta como padrão de correção de todas as formas linguísticas. O falante, portanto, tem de ser capaz de usar a variante adequada da língua para cada ocasião”

Interpretação do texto, segundo o que o jumento aqui achou que a especialista, a autora do livro, quis ensinar:

1. ”Claro que pode”, smj – diriam os juristas – quer dizer “claro que pode”. Se eu não estiver enganado, CLARO aqui não é o antônimo de ESCURO, qualidade do céu ensolarado e muito menos o nome de uma certa operadora de celular. CLARO aqui quer dizer: com certeza, óbvio, certamente, sem sombra de dúvida. “Claro que pode falar os livro”.  Ou não?
2. Ou seja, pode falar errado, sim, qual o problema? Deve apenas ficar atento por que tem certo tipo de gente preconceituosa que vai querer julgar você por falar errado; eles querem que você fale a só a língua “culta”, mas nem sempre precisamos dessa língua “culta”, “chique”, “certinha” no dia a dia ou em nosso ambiente coloquial.
3. A norma “culta” é um padrão preconceituoso pois separa as pessoas entre “cultas” e “ignorantes”, portanto, não aceite essa classificação, pois isso é apenas preconceito.  (Talvez devamos lembrar aqui do Presidente Lula, coitado, criticado injustamente, só por que não dominava a norma culta da língua pátria).
4. A forma “errada” de falar é apenas uma “variante adequada” em uma dada ocasião. Você pode até conhecer a gramática e saber a norma culta, mas ao falar, não se preocupe com esses detalhes.

Posso até estar enganado, mas é exatamente isso que eu entendi. Se alguém entendeu melhor, por favor, me explique.

Outro exemplo, na página polêmica:

“Nós pega o peixe” e “Os menino pega o peixe”.
“Nos dois exemplos, apesar de o verbo estar no singular, quem ouve a frase sabe que há mais de uma pessoa envolvida na ação de pegar o peixe. Mais uma vez, é importante que o falante de português domine as duas variedades e escolha a que julgar mais adequada à sua situação de fala”

Como Jack, o estripador, por partes:

1.       Apesar do erro de concordância (verbo no singular), quem ouve “sabe” do que se trata. Não precisa você se preocupar, pois o importante é comunicar. Afinal, ninguém é burro pra não entender o que está querendo dizer a frase em questão. Comunicou? É o que basta!

2.       É importante dominar a variante errada também pra poder escolher  a que julgar mais adequada. Ao que parece, nem sempre é adequado falar certo. Ou, não seria adequado falar sempre certo. Tem ocasiões em que é adequado falar errado. E você precisa estar preparado para saber falar errado certo, tendeu?

Seria algo como aqueles meninos que estavam roubando manga no quintal do velho, quando este os surpreende:   “Norratarra quaije peganas manga quando o réi raiô cum nois”. Entendeu? Pronto! Segundo alguns especialistas, trata-se apenas de uma “variedade linguística”, que não é melhor nem pior do que a “língua culta” e é adequada à realidade rural e às disparidades regionais do país. Não deve ser combatida nem discriminada.  (Perguntinha besta: qual o papel da escola?).

Não seria mais a escola que vai dizer o que é certo ou errado em matéria de linguagem. VOCÊ é que vai JULGAR a forma MAIS ADEQUADA de falar. O máximo que a escola vai fazer – por favor, não se melindre, jovem e adulto que perdeu o bonde  – é dizer humildemente qual forma SERIA a correta na norma CULTA mas VOCÊ, por favor, não se constranja. Pode continuar a falar como você já fala na sua região. E se alguém vier lhe corrigir, pegue esse livro e mostre o quanto essa pessoa é ignorante e preconceituosa.

Captei a mensagem? Alguém tem uma interpretação melhor? Fique á vontade para comentar.

Continuando, voltando ao post, agora, o espírito de classe e o fantasma ideológico:

“Não deixemos que jornalistas, críticos ou pessoas que nada conhecem de nossa área de trabalho - educação - dominem nossos pensamentos e manipulem nossas ações! Investiguemos o que há por trás desses "discursos críticos". Que será que há?

abraços,

(nome omitido para não personalizar o debate)

“Vamo lá, pessoar, num vamo deixá que essa gentalha que nada conhece de nossa área de trabalho – educação – se meta e tente manipular nossas ações”.

Pelo que entendi, parece que alguns especialistas tomaram conta da educação e ninguém deve atrapalhar as ações deles nessa área, que não é mais pública, mas só deles. Muito menos essas pessoas, como nois, pobres pais, mães e cidadãos mortais, que não sabemos nada do assunto.

E, por fim, para assassinar de vez a crítica, o velho apelo ideológico: o que está por trás desses “discursos críticos”? O que será? Será o pessoal do Serra? Da revista VEJA? Da direita?  Não lhes passa na cabeça que alguns dentre os especialistas, nesse ponto particular, possam simplesmente estar... errados? Ou certos na situação inadequada? Ou errados na situação adequada? Ou errados certos?  Ou certos errados? Tô doidim com isso, meu-deus-do-céu! Vou ficar louco! Socooooorro!

Faustino Jr.

P.S.:  Deixei este post maturando por 10 dias, sem querer publicá-lo por ter saído um tanto quanto irônico demais. Peço desculpas aos especialistas e estudiosos. Generalizações são sempre injustas. Creditem a ironia exacerbada a um pico de indignação. No mais, considerem a crítica e – sinceramente – ofereçam justificativa à tese. Será produtivo para todos.


quarta-feira, 8 de junho de 2011

Lady Gaga, o cão dos infernos e eu com isso...


Uma amiga me pede opinião sobre email que corre na net com imputações satânicas a Lady Gaga. É um email enorme, amedrontador, cheio de figuras e símbolos esotéricos e satânicos que a estrela e seus seguidores costumam exibir nos shows, clipes, e vestuário.  Respondi.


Olá, querida, beijos.

Olha só, esse material que você nos coloca para que opinemos é recorrente na internet. Nada novo.  Não gosto de discutir esse assunto polêmico e chato por duas razões:  1) ele não acrescenta nada e, 2) atrai o ataque dos fundamentalistas e o desprezo dos acadêmicos. Porém, em consideração a você, que está buscando uma orientação sincera, aqui vai a minha visão - e não pretendo polemizar.  Você sabe que eu sou cristão, de linha protestante. Minha visão de mundo está pois, condicionada (todos nós temos uma visão de mundo condicionada, claro). Vamos então:

O fato é que ocultismo e esoterismo são práticas milenares.  Se fossemos ligar pra tudo o que se fala e se escreve sobre o assunto a gente ficaria sem a graça de viver, com medo de tudo, vendo chifre em cabeça de cavalo. Ficaríamos doentes, obsessivos.  Conhece gente assim?

Os cristãos creem em Deus e, obviamente, creem em Satanás! Ou seja, quem crê na Bíblia tem que admitir a existência desse ser originalmente criado com bons propósitos, e que, sem uma explicação razoável, veio a opor-se ao seu próprio Criador, passando a atuar no mundo como inimigo de Deus e promotor do mal.

PORÉM, em vez de temê-lo, a Bíblia nos orienta a enfrentá-lo. Nos diz as escrituras que devemos "resisti-lo, firmes na fé" e "ele fugirá de vós".  A Bíblia também nos ensina que esse ser poderoso, em rebelião, está, todavia, sob controle.  Ele não está em guerra com Deus em pé de igualdade. Por isso não acatamos o símbolo Yin-yang, que ensina que o mundo é uma conjugação do equilíbrio entre o Bem e o Mal, o que no fundo relativiza tanto um quanto o outro, elegendo o equilíbrio como o fator de manutenção da vida.  A Bíblia ensina que Deus tem seus planos. Estes, contudo, são, em muitos pontos, inexplicáveis. Nesses planos está prevista a aniquilação do mal e a destruição desse ser. Quando? Ninguém sabe. Eu queria que fosse logo!

Se eu fosse Deus teria dado cabo desse anjo caído há milênios! Teria destruído o mal pela raiz! Teria mantido as condições originais da criação desde o início. Eu não entendo - a despeito das explicações dos teólogos - por que o mal surgiu na criação, qual a sua origem e o que Deus tem a ver com isso.  A forma como a rebelião desse ser passou ao homem é pra mim um desafio de compreensão. Os teólogos chamam de "queda" e ela está descrita na cena de Adão e Eva, ao comerem o fruto da misteriosa "árvore do conhecimento do bem e do mal". (Lá vem pedrada dos acadêmicos!). É tudo uma alegoria - a história da Criação, do Éden (Lá vem pedrada dos fundamentalistas!). Mas é nela que encontramos os elementos básicos da compreensão cristã do universo.

Apesar de eu não compreender o "por que" da queda e da origem do mal, a evidência de seus efeitos na natureza e no homem são abundantes. 99% (força do argumento) dos nossos recursos humanos são dirigidos para o processo de nos desbrutalizar. Não fazemos o óbvio em respeito ao nosso bem estar como espécie. Somos egoístas. É preciso Lei e punição para impedir a barbárie. Por dentro, somos bárbaros!  O único animal racional é também o único irracional. Somos a única espécie que faz mal a si mesma. Olhamos para a natureza e vemos que, se deixada ao leo, sem cuidados, vira desordem. O mato cresce - quem aduba mato! O ferro enferruja, a tinta descasca, a borracha resseca, a madeira apodrece.. tudo tem que ter manutenção constante. Por que o mal, o ruim, ocorre sozinho e o bem tem que ter energia para ser feito? Por que é melhor dormir do que trabalhar? Ver TV do que estudar? Engordar do que se exercitar e fazer dieta? Por que os alimentos benéficos não são os mais gostosos? Tudo isso aponta para a queda! 

O mundo 2.0 - o que os cristãos costumam chamar de céu - será uma nova criação, mas, ao contrário da primeira, não surgirá do nada. Ao que parece o Criador pretende apenas retirar os efeitos da queda. Seria como voltar à condição original do jardim. Nossas limitações serão retiradas. A natureza operará a nosso favor e não contra. O nosso trabalho passará a ser prazeroso e cheio de motivação natural. O universo, gigantesco e insondável, será nossa casa! É isso que os cristãos aspiram - embora, com certeza, grande parte deles faz uma ideia muito reducionista do porvir (anjinhos tocando harpas pelas nuvens, arghhh!)

Enquanto estamos nessa dimensão, vamos vivendo, cada um de acordo com suas escolhas possíveis. Nem sempre somos livres para fazê-las, pois, tanto as oportunidades como as potencialidades pessoais são diversas e desiguais, limitando o nosso leque de opções.

Como nós, o anjo rebelde (e sua companhia, pois ele levou 1/3 de seres celestes em sua rebelião, segundo a Bíblia) também vive e procura exercitar suas escolhas e aproveitar suas oportunidades, que são também limitadas.  Uma de suas maiores limitações é que ele não é onipresente, não pode estar em todos os lugares ao mesmo tempo, como gostaria e como, lamentavelmente, a maioria das pessoas imagina, inclusive alguns cristãos. Ele consegue arregimentar muita gente para o seu lado, através do engano, com promessas que têm grande apelo, pois apostam justamente no efeito da queda em nós: o desejo de riqueza, fama, domínio e poder.

Muitos cristãos atribuem responsabilidades demais ao anjo rebelde. 99% (força do argumento) do mal praticado no mundo nada tem a ver com ele. Nossa própria maldade inata responde, sem precisar de ajuda! Imagino até que esse anjo rebelde seja bem capaz de argumentar inocência perante o Altíssimo no dia final:  "Senhor, eu não fiz nem um décimo do que esse pessoal tá me acusando!" (Lá se vem mais pedradas dos fundamentalistas - tô lascado!).

Eu, de minha parte, não me preocupo com ele. Já tenho coisas demais pra me preocupar, a minha própria vida, as questões transcendentais que me inquietam, a desordem do mundo, a injustiça - pessoal e social, o meu próprio egoísmo e o dos outros, o peso da "queda" que consome nossas energias, que ronda e, vez por outra, me deprime. Tento manter meu foco em Deus e procuro não perder de vista a figura de Jesus. Este é Deus, que resolveu experimentar na própria pele os efeitos do mal que decidiu - sabe-se lá por que cargas d’água - não eliminar desde a origem. E ele não gostou nada do que sentiu ao experimentá-lo.  E, mesmo assim, manteve o plano de só fechar o ciclo da "queda" num tal de "final dos tempos" que, nem mesmo como o Cristo, Deus encarnado, quis falar pois chegou a dizer que "o Pai reservou para sua exclusiva autoridade".  Então tá. Quem seria eu para questionar e ficar, como alguns fundamentalistas por aí, marcando a data.

Resumindo: se meu ponto de vista servir: deixe pra lá, querida. Centre em você, em sua família e no mundo de sua área de influência. Se quiser escutar Lady Gaga, pode, não tem problema. Se ela divulga uma "mensagem satânica", basta ignorar essa mensagem. Evite vestir suas camisetas esotéricas - mas, por favor, não saia nua se só tiver uma dessas na mochila, hahaha.

Deus te ilumine. Te acerca de Jesus. E pé na estrada, enquanto Seu Lobo não vem.

Abraços,

Faustino


Em tempo, amiga:
Não endosso o que foi dito no e-mail original sobre Lady Gaga, especificamente. Não tenho - nem preciso ir atras de - informações suficientes sobre. Tenho mais o que fazer. Tem gente muito criativa por aí, que pega um detalhe qualquer e monta uma teoria conspiratória. A minha resposta é em tese.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Eu, cara; eles, coração.


Voltei da minha visita, curiosa e meio constrangida pelo desafio, à Escola de Cegos do Maranhão.  Foi a primeira vez em que eu visitei esse trabalho. Não foi uma visita muito produtiva, pois os diretores não se encontravam no momento. A atendente, a jovem Maria Rita, é voluntária. Colabora três vezes por semana, nos telefonemas para doações.  Ela me forneceu algumas poucas informações. Deixei meu contato para que o presidente da escola, Sr. Antônio Rocha, marcasse pra conversar comigo. Maria Rita me falou que ele é completamente cego.

Eu quero saber mais sobre a instituição, qual sua natureza, como funciona, quais as fontes de financiamento e manutenção, se tem dinheiro público envolvido, como é a administração, a aplicação de recursos e a prestação de contas; que tipo de trabalho exatamente eles fazem, quem trabalha, quem faz o que e de que maneira; se têm algum planejamento de longo prazo, etc. Assim poderei avaliar a melhor forma de colaborar.

Fui para ver as caras. E as vi.  Vi jovens, crianças e adultos, homens e mulheres, completamente cegos. Um ou outro com cegueira severa. Vi olhos sem a parte preta (dá uma sensação de gastura na gente!), vi olhos sem brilho, vi olhares distante, outros sem controle das pupilas;  uns com olhos em cicatriz, outros com olhos fechados; uns com óculos, outros sem. Vim um adolescente de uns  16 anos simplesmente sem olhos – uma má-formação congênita!  Vi uma menina de uns 9 anos, tão linda, brincando, apreciando seus brinquedos com o tato.

O que essa gente faz lá?  Estuda. Isso mesmo!  É uma escola. Há livros em Braile, de matemática, português, história, geografia, ciências. A Prefeitura de São Luís disponibiliza duas professoras especializadas em Braile para as classes.  Há duas salas de aula. Os alunos são de São Luís e do interior do Estado. Os do interior moram na escola. Há dois alojamentos, masculino (o maior) e feminino.  Os alunos da capital vem todo dia de manhã e passam o dia na Escola. Há café da manhã, almoço e janta.  

A voluntária explicou que tudo lá é adquirido por doações. Tem empresas que fornecem a alimentação durante todo o ano. Ela não soube precisar detalhes. Disse apenas que todo o serviço é voluntário. A igreja católica faz missas aos sábados. Pessoas de igrejas evangélicas às vezes aparecem para ajudar. Há vários doadores e colaboradores voluntários. Perguntei se alguém era funcionário registrado da escola, não soube responder. A comida é feita por voluntários ou por pais de alunos. Nesse dia, a cozinheira tinha ido ao médico. Quem fazia a comida? Uma mãe de aluno.

Observei que há um conjunto de prédios novos recém edificados. São novas salas e alojamentos. Tudo muito bem feito, com lajotas, bem pintados, com capricho. Causou-me boa impressão. O terreno é grande – assim, no olhômetro, estimei uns 100m x 100m, ou seja, 10.000m2, na margem da avenida mais movimentada (e engarrafada) da capital (Av. Jerônimo de Albuquerque, quase em frente ao Hospital São Domingos). Há árvores frondosas – mangueiras e outras – com boa sombra.

Como disse, vi caras. E ao vê-las, ardeu-me o coração. Eles, contudo, não vêem caras. Vêem apenas o coração.   

Continua...

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Entre quatro paredes - A missão



Uma vez eu e minha irmã, Prof. Miriam Sousa, fomos falar com o Dr. Carlos Sebastião Silva Nina, ex-presidente da OAB-MA (1986/89), acerca das humilhações a que são submetidos familiares de detentos nas visitas. Ele deu uma resposta dura, jamais esquecida: "Vocês só estão preocupados com esse problema por que o estão vivendo na própria pele".  Era verdade!  Era verdade então e continua sendo agora, pra nós e pra quase todo mundo. Quem se preocupa com os cadeirantes? Quem pelos drogados?  Pelas mães coitadas com filhos no colo nas filas dos SUS da vida? Pelas crianças aidéticas órfãs? Pelas crianças nos corredores dos hospitais de câncer? Pelas de rua? Por aquelas com necessidades especiais? 

Fora raras e esporádicas exceções, quem?  Resposta: os próprios familiares!  Ou, ainda mais propriamente, as mães! Elas, em último caso, vão até a última e, em seguida, depois da última milha.

Temos nossa própria vida pra cuidar. E não é pouco. Os desafios do mundo moderno são enormes. Assegurar nosso lugar ao sol, nossa própria sobrevivência com dignidade, nossa saúde, a provisão para os nossos filhos!  Eu sou assim. Você é assim. Somos todos assim!  Aqui e ali aparece um que fura esse padrão, um que sai do seu nicho, que fura a bolha, sai das quatro paredes que cercam seus interesses e os de seu grupo familiar pelo qual seja diretamente responsável. 

Pagamos nossos impostos - e não são poucos!  Uma boa parte de nós trabalha duro e mal consegue superar a base da pirâmide de Maslow. A maioria apenas sobrevive nessa base. A vida moderna organizou-se de tal forma que exige uma estrutura cada vez maior e mais dispendiosa para garantir a dignidade e o bem estar pessoal e da família. E ainda sofremos diuturnamente a pressão para consumir. "Compre, compre, compre, compre agora, não deixe para amanhã, é só hoje, tá acabando, aproveite, estoque limitado".  Nem nos apercebemos que amanhã, depois de amanhã, depois de depois de amanhã, a mensagem é a mesma!  (Bom, mas isso é assunto para outro post).

Tá certo, tá certo... é difícil! Mas, como diria eu (pois gosto de dizer sempre isso), "é difícil é um préido arto".  Sair das quatro paredes é um desafio. Fazer isso de vez em quando, já é alguma coisa. Fazer disso uma missão, bem, é para poucos. 

Por que estou escrevendo isso agora?  Porque ontem à tarde recebi uma ligação da Escola de Cegos do Maranhão (ECEMA), pedindo ajuda para comprar duas bengalas. Queriam mandar um motoqueiro aqui pegar o dinheiro, com o recibo. "Absolutamente não, não vou fazer isso, tá doida?" - respondi. "Vou passar aí amanhã de manhã e ver a situação pessoalmente". Eu não iria entregar dinheiro assim para um motoqueiro com base num telefonema, claro. Depois fiquei pensando "Seria mais simples do que ir lá, pois assim corro o risco de me envolver, de me comprometer".  Nesse momento Dr. Carlos Nina abriu sem bater a porta do meu escritório mental.  Fela-da-mãe! Pensei que ele tinha sumido, depois de 25 anos!

Tou indo agora na ECEMA. 

Fui!

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Bilhões e bilhões - prazer roubado à juventude


Morrer aos 63 anos, em plena ação intelectual e bom vigor físico! 

Faz 15 anos!

Carl Sagan (1934-96) astrônomo, astrofísico, cosmologista, professor de astronomia e ciências espaciais, conferencista e autor. Publicou mais de 600 textos, entre papers científicos e artigos populares, e mais de 20 livros.  Nasceu nos arredores do Brooklin, em NY, filho de um alfaiate imigrante judeu russo. Na Grande Depressão seu pai teve que ser lanterninha de teatro para sustentar a família. 

Carl Sagan foi um dos maiores cientistas espaciais da história contemporânea. Pesquise no Google e fique fascinado com sua contribuição científica! Seu papel mais apreciado: falar de ciência e astronomia para o povo leigo, crianças, jovens e etc.

Sua última obra, Bilhões e bilhões, foi publicada postumamente por sua esposa e colaboradora Ann Druyan. Consiste da compilação de artigos inéditos.

O último capítulo, intitulado "No vale da sombra", ficou inconcluso:  "Há pessoas que sobrevivem anos com uma pequena porcentagem de células hospedeiras. Mas não terei uma certeza razoável, enquanto alguns anos não se passarem. Até então, só posso esperar". Falava das células de sua irmã compatível, no transplante de medula. Era outubro de 1996. Em dezembro, faleceria, vítima de mielodisplasia (síndrome originada na medula óssea que afeta o sangue), depois de dois anos de penoso tratamento.

Sempre me inquietou que pessoas sérias, que vivem com sólidos propósitos, descreiam de que haja um propósito maior na vida, na terra, no universo! Principalmente os cientistas!  Ao longo de sua luta pela vida Carl escreve: "Já encarei a morte seis vezes. E seis vezes ela desviou de mim". E continua, "Aprendi muito com essas confrontações".  Mas o que?  Ele responde: "Sobre a beleza e a doce pungência da vida, sobre a preciosidade dos amigos e da família e sobre o poder transformador do amor".  Eram duas da manhã quando cheguei nesse ponto. Meus olhos marejaram. Mas, ele segue, implacável: "Na verdade, quase morrer é uma experiência tão positiva e construtora, que a recomendaria a todos - não fosse, é claro, o elemento irredutível e essencial do risco".   Ah, não! Num-é-pussíver?  Que sublimidade ao enfrentar a própria morte quando não se tem esperança de que a vida continua?  Quase senti vergonha de minha fé!  Mas o cara não se contentou. Foi mais adiante:  "Gostaria de acreditar que, ao morrer, vou viver novamente, que a parte de mim que pensa, sente e recorda vai continuar. Mas por mais que eu deseje acreditar nisso... não sei nada que me sugira que essa afirmação não passa de wishful thinking (pensamento positivo)". 

Como qualquer um de nós, Carl Sagan não queria morrer.  Porém, diferentemente, não acreditava noutra vida. Talvez por isso sempre tinha propósitos e sonhos concretos. Queria viver mais.  Mas, pra que?  "Quero envelhecer junto com minha esposa Annie, a quem amo muito. Quero ver meus filhos mais moços crescerem e participar do desenvolvimento de seu caráter e intelecto. Quero conhecer os netos ainda não concebidos".

E se me perguntarem, e a você, no leito de morte, por que ainda viver?  Essa resposta genérica sobre mulher, família e filhos, talvez daríamos. Mas, e quanto ao trabalho?  "Há problemas científicos cujas soluções desejo testemunhar - como a exploração de muitos mundos em nosso sistema solar e a busca de vida em outros lugares".  E quanto ao mundo?  "Quero ver como vão se desenvolver tendências importantes na história humana, tanto promissoras quanto preocupantes, como: os perigos e as promessas de nossas tecnologias, a emancipação das mulheres, a crescente predominância política, econômica e tecnológica da China, o voo interestelar".

"Se houvesse vida após a morte" - segue Carl - "eu poderia, não importa quando morresse, satisfazer a maioria dessas profundas curiosidades e desejos. Mas, se a morte nada mais é do que um interminável sono sem sonhos, essa é uma esperança perdida."  Ôh, meu Deus, me custava imaginar que haveria desesperança sem desespero. Me pareciam tão incompatíveis! Mas aí está!  E, para matar de pau, conclui: "O mundo é tão refinado, com tanto amor e profundidade moral, que não há razão para nos enganarmos com histórias bonitas para as quais não há evidências". Por que?

Carl Sagan era um prisioneiro da ciência: "A ciência nos pede que não aceitemos nada com base na fé".  Mas não ficou refém dela: "Quando um cinismo exagerado ameaça nos engolfar" - fala como cientista - "é animador lembrar que a bondade está por toda parte".  Que eu saiba, ele foi o ateu mais reverenciado pelos religiosos na face da terra até agora. Participou ativamente do Forum Global dos Líderes Espirituais e Parlamentares em Oxford (1988) e Moscou (1990), junto com as autoridades religiosas mundiais mais representativas.  Atuou como elo de união entre a ciência e a religião pelo compromisso com a sustentabilidade do planeta.

No seu leito de dor, orações, preces, rezas, mantras e outros clamores ecoaram a seu favor pelo mundo afora. Ele refere sua profunda gratidão pelas orações a seu favor. "Embora eu não ache que, se há um deus, o seu plano para mim será alterado por orações, sou mais grato do que posso dizer com palavras àqueles - inclusive tantos que jamais conheci - que torceram por mim durante a minha enfermidade".

Por que os religiosos reverenciaram com tanta fé a um ateu? 

Mesmo sem fé, ele respeitou os que a têem! Uniu-se a eles por uma causa comum, ainda que com divergências práticas, como no caso do aborto. Carl Sagan amou, e foi amado!

Impossível negar: o cara era muito feliz sem fé. Bom pra ele.  Há muitos "ateus" cínicos por aí. Encontrar um com esse amor pela vida e respeito pelo universo é surpreendente. 

Oro por ele, Deus que me perdoe - protestantes não rezam por mortos. Inspira-me de ter na minha fé a mesma força, entusiasmo e amor que ele exerceu na sua não fé.

Sim, mas, o que tem a ver o título desse post?

Bem, enquanto Seu Lobo não vem, nossos jovens estão assistindo BBB, Zorra Total, Faustão...
Não sabem mais o que é o prazer de uma boa leitura - que não seja o estudo por obrigação do imperativo de buscar seu próprio lugar ao sol.