Ainda sobre a polêmica do livro do MEC “Por Uma Vida Melhor”, que libera as pessoas da angústia de querer falar sempre certo em todas as ocasiões. Trato aqui da reação de alguns acadêmicos especialistas (com ironia) que saíram em defesa do MEC e do Ministro Fernando Haddad.
Advinha qual o argumento? Dou um Sonho de Valsa!
Preconceito! Isso mesmo, esse é o argumento! Tudo agora é preconceito nesse país. “Nunca antes na história desse país... etc., etc...”.
O post da especialista responde:
“Colegas!
Discordo do que foi falado pelo "poeta"(quem é ele? é professor? é educador?) em vários pontos. Porém, o que achei mais grave é a informação errônea apresentada: os livros não foram distribuídos para escolas de ensino fundamental e médio. O livro em questão (Por uma vida melhor) está na lista para escolha dos livros didáticos da Educação de Jovens e Adultos.
Quem conhece as ideias de Freire sabe que para esta etapa de ensino é essencial a problematização da realidade do educando!
Em anexo encaminho, para os interessados, a cópia da página polêmica do livro. Notem que após a problematização são elencadas as normas da língua padrão (fato que nenhum dos "críticos" observou em seus calorosos discursos).
Para quem tiver maior interesse no assunto, abaixo o link para uma notícia com a explicação do ministro Haddad:
http://www.pedagogia.seed.pr.gov.br/modules/noticias/article.php?storyid=388
Paro aqui, depois continuo.
É curioso: para argumentar contra um suposto preconceito a especialista inicia com um! Vamos lá:
1-Poeta? Que poeta? Fala sério! Onde ele fez pós-graduação em Poetagem? É professor? É educador? Quem é ele para emitir opinião num assunto tão especializado? Que absurdo? Ele conhece Paulo Freire? Só quem conhece as ideias de Paulo Freire (nós, os especialistas!) pode entender que se trata do “método da problematização”.
Ah, tá! Método da Problematização! Claro, seu jumento! O que tu intende disso, cavalo?
2-Mas, o que a postante achou mais grave? “Não, o livro não é destinado ao ensino fundamental nem ao médio não. É para a EJA”. Puxa, mas que erro grave! Não é grave não: é gravíssimo! Poeta, presta atenção no selviço, rapá! As nossas crianças e jovens matriculados regularmente no ensino fundamental e no médio estão salvas! Quanto aos jovens e adultos, que perderam o bonde da escola, ah, esses contam com o Método da Problematização!
3-Agora vamos ter uma aulinha sobre o Método da Problematização com o Ministro Haddad, no link fornecido no post:
· “Os livros didáticos são avaliados por 192 comissões de especialistas de 10 universidades federais, sem qualquer viés político e nenhuma interferência do Ministério da Educação” – Bem, se é assim, pelo menos nesse caso tamo perdido, e Haddad tá salvo! Por que, adispois de passá por 192 comissões de especialistas de 10 universidades, ainda saiu assim, o que podemu dizê, nois coitado que num intendemu nadica de nada de educação? E, claro, quem é o Ministro para passar por cima de tantos especialistas? Ele seria trucidado, não é mesmo? Tá tudo pobrematizado!
· Haddad continua: “A obra é dedicada à educação de jovens e adultos. A autora fala para pessoas que perderam o bonde do ciclo educacional e que muitas vezes apresentam dificuldades no domínio da língua culta. Ao contrário do que foi veiculado a obra parte de uma situação coloquial para levar o estudante até a norma culta”. Não, não, Ministro, não é bem assim. Basta ler a página polêmica para constatar que é justamente o contrário: a obra parte da situação da língua culta para a coloquial e pretende validar o erro de fala como uma “variante adequada”.
4-Para nos ajudar, a especialista nos envia a página polêmica, onde, segundo afirma, depois da problematização, a língua culta é elencada. Vamos aos trechos da tal página polêmica. Depois de elencar as normas da língua culta, a autora problematiza:
Mas eu posso falar “os livro?”
Claro que pode. Mas fique atento porque, dependendo da situação, você corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico. Muita gente diz o que se deve e o que não se deve falar e escrever, tomando regras estabelecidas pela norma culta como padrão de correção de todas as formas linguísticas. O falante, portanto, tem de ser capaz de usar a variante adequada da língua para cada ocasião”
Interpretação do texto, segundo o que o jumento aqui achou que a especialista, a autora do livro, quis ensinar:
1. ”Claro que pode”, smj – diriam os juristas – quer dizer “claro que pode”. Se eu não estiver enganado, CLARO aqui não é o antônimo de ESCURO, qualidade do céu ensolarado e muito menos o nome de uma certa operadora de celular. CLARO aqui quer dizer: com certeza, óbvio, certamente, sem sombra de dúvida. “Claro que pode falar os livro”. Ou não?
2. Ou seja, pode falar errado, sim, qual o problema? Deve apenas ficar atento por que tem certo tipo de gente preconceituosa que vai querer julgar você por falar errado; eles querem que você fale a só a língua “culta”, mas nem sempre precisamos dessa língua “culta”, “chique”, “certinha” no dia a dia ou em nosso ambiente coloquial.
3. A norma “culta” é um padrão preconceituoso pois separa as pessoas entre “cultas” e “ignorantes”, portanto, não aceite essa classificação, pois isso é apenas preconceito. (Talvez devamos lembrar aqui do Presidente Lula, coitado, criticado injustamente, só por que não dominava a norma culta da língua pátria).
4. A forma “errada” de falar é apenas uma “variante adequada” em uma dada ocasião. Você pode até conhecer a gramática e saber a norma culta, mas ao falar, não se preocupe com esses detalhes.
Posso até estar enganado, mas é exatamente isso que eu entendi. Se alguém entendeu melhor, por favor, me explique.
Outro exemplo, na página polêmica:
“Nós pega o peixe” e “Os menino pega o peixe”.
“Nos dois exemplos, apesar de o verbo estar no singular, quem ouve a frase sabe que há mais de uma pessoa envolvida na ação de pegar o peixe. Mais uma vez, é importante que o falante de português domine as duas variedades e escolha a que julgar mais adequada à sua situação de fala”
Como Jack, o estripador, por partes:
1. Apesar do erro de concordância (verbo no singular), quem ouve “sabe” do que se trata. Não precisa você se preocupar, pois o importante é comunicar. Afinal, ninguém é burro pra não entender o que está querendo dizer a frase em questão. Comunicou? É o que basta!
2. É importante dominar a variante errada também pra poder escolher a que julgar mais adequada. Ao que parece, nem sempre é adequado falar certo. Ou, não seria adequado falar sempre certo. Tem ocasiões em que é adequado falar errado. E você precisa estar preparado para saber falar errado certo, tendeu?
Seria algo como aqueles meninos que estavam roubando manga no quintal do velho, quando este os surpreende: “Norratarra quaije peganas manga quando o réi raiô cum nois”. Entendeu? Pronto! Segundo alguns especialistas, trata-se apenas de uma “variedade linguística”, que não é melhor nem pior do que a “língua culta” e é adequada à realidade rural e às disparidades regionais do país. Não deve ser combatida nem discriminada. (Perguntinha besta: qual o papel da escola?).
Não seria mais a escola que vai dizer o que é certo ou errado em matéria de linguagem. VOCÊ é que vai JULGAR a forma MAIS ADEQUADA de falar. O máximo que a escola vai fazer – por favor, não se melindre, jovem e adulto que perdeu o bonde – é dizer humildemente qual forma SERIA a correta na norma CULTA mas VOCÊ, por favor, não se constranja. Pode continuar a falar como você já fala na sua região. E se alguém vier lhe corrigir, pegue esse livro e mostre o quanto essa pessoa é ignorante e preconceituosa.
Captei a mensagem? Alguém tem uma interpretação melhor? Fique á vontade para comentar.
Continuando, voltando ao post, agora, o espírito de classe e o fantasma ideológico:
“Não deixemos que jornalistas, críticos ou pessoas que nada conhecem de nossa área de trabalho - educação - dominem nossos pensamentos e manipulem nossas ações! Investiguemos o que há por trás desses "discursos críticos". Que será que há?
abraços,
(nome omitido para não personalizar o debate)
“Vamo lá, pessoar, num vamo deixá que essa gentalha que nada conhece de nossa área de trabalho – educação – se meta e tente manipular nossas ações”.
Pelo que entendi, parece que alguns especialistas tomaram conta da educação e ninguém deve atrapalhar as ações deles nessa área, que não é mais pública, mas só deles. Muito menos essas pessoas, como nois, pobres pais, mães e cidadãos mortais, que não sabemos nada do assunto.
E, por fim, para assassinar de vez a crítica, o velho apelo ideológico: o que está por trás desses “discursos críticos”? O que será? Será o pessoal do Serra? Da revista VEJA? Da direita? Não lhes passa na cabeça que alguns dentre os especialistas, nesse ponto particular, possam simplesmente estar... errados? Ou certos na situação inadequada? Ou errados na situação adequada? Ou errados certos? Ou certos errados? Tô doidim com isso, meu-deus-do-céu! Vou ficar louco! Socooooorro!
Faustino Jr.
P.S.: Deixei este post maturando por 10 dias, sem querer publicá-lo por ter saído um tanto quanto irônico demais. Peço desculpas aos especialistas e estudiosos. Generalizações são sempre injustas. Creditem a ironia exacerbada a um pico de indignação. No mais, considerem a crítica e – sinceramente – ofereçam justificativa à tese. Será produtivo para todos.